Aconteceu há uns 6 anos. Numa feira havia um passatempo para ganhar um BMW. Um stand, um BMW e uma tombola onde, depois de escrever uma frase inspirada, deixaríamos a nossa sorte. Eu e a minha mãe participámos, com frases diferentes. Não me lembro do que escrevi, mas devo ter usado os meus floreados, ou feito umas rimas, não faço ideia. Deixei lá a minha participação e a minha mãe a dela. Passados uns tempos, recebo um telefonema, que foi mais ou menos assim [perdoem-me, mas entretanto tive duas filhas, duas amnésias e mais uns quantos neurónios cometeram suicídio]:
"- Muito boa tarde.
- Boa tarde.
- Daqui fala xxx, da xxxx, do passatempo BMW xxxx xxxx xxxx
(eu já com o coração a acelerar)
- Sim...
- Era para anunciar que foi a vencedora.
(zumbido, não ouvi mais nada)
- Não acredito! Não estou a acreditar! Oh meu Deus!!!
- Acredite! Parabéns! É realmente um prémio fantástico. Até queria ser o meu filho a dar-lhe a notícia, de tão entusiasmado que estava.
- Estou muito, muito feliz!
- Que bom! Também ficamos por si. A frase estava fantástica [deve ter usado outro adjectivo, não faço ideia da riqueza de sinónimos do senhor].
- Então e agora? Como faço para levantar o carro?
- Agora marca o fim-de-semana no Hotel XXX em Cascais e vem cá levantar antes que tratamos de tudo.
- Ah! Exacto! Venci a noite no hotel, claro!
- Sim, sim, é fantástico mesmo. [lá está, não sei se foi isto]"
Nisto, uma pessoa telefona aos pais, ao irmão, ao David, comenta no trabalho, diz à amiga, uma grande festa. Afinal não calha só aos outros, que maravilha, Já a fazer planos, vender o meu pequenino, ou mais tarde este, Meu Deus, que carrão, nunca na vida. Isto há pessoas com sorte. Fantástico. Fantástico. E as palavras do senhor a ecoar.
Três horas mais tarde, liga-me o meu irmão que conhecia não sei quem que era familiar de não sei quem e caiu-me tudo. Afinal eu não tinha ganhado um BMW. Um BMW nunca esteve a concurso. Mas sim a tal noite num hotel de 5 estrelas para o qual iríamos de BMW. [nem eu nem a minha mãe percebemos ou lemos as letrinhas pequeninas, sei lá].
Pausa para uma lágrima.
Pausa para outra.
Não chorei, é figurativo. Mas foi um choque.
Não ter um carrão não era problema. O problema foi ter tido um e afinal não. É aquele chupa-chupa que se dá a uma criança e "Ah! Afinal não podes, enganei-me".
Tem graça por ter sido verdade.
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