11.05.2017

Tenho pena das crianças que não vão à rua (e dos pais delas).

Andamos a negligenciar isto. Às vezes por opção, na maior parte das vezes sem possibilidade de escolha. As crianças passam menos tempo ao ar livre na rua do que um recluso. Isto devia fazer-nos pensar. Aceitamos, sem muito a fazer, já que o tempo não estica entre o corridinho trabalho-casa, que a rua fique reservada para o fim-de-semana (e às vezes só quando não chove...). Aceitamos que, nas escolas, isso não seja uma prioridade. As crianças vêem a luz da rua no trajecto casa-escola e na maior parte das vezes dentro de um carro ou de um transporte público. Achamos normal que, em muitas creches, os miúdos não vão à rua antes de terem 2 anos, com a desculpa de que nem todos andam pelo próprio pé ou de que "alguns pais não querem, porque podem constipar-se (what?!)".


Às vezes, num país ainda por cima, com um clima convidativo, há escolas em que os miúdos só saem à rua, ao recreio, lá para o fim da primavera. Continuamos a sacudir a água do capote, a achar que é um problema menor, quando todos os estudos indicam que é muitíssimo importante! E É PRECISAMENTE O CONTRÁRIO! "A brincadeira no exterior, nomeadamente em contacto com a natureza, tem implicações ao nível de neurotransmissores como a serotonina. “As emoções positivas que advêm de brincar nestas condições estimulam até o sistema imunitário, em vez de o enfraquecer como muitos pensam”, afirma, explicando que “a serotonina está associada a este brincar no exterior, sujar e desorganizar a arrumação da vida certinha e limpinha” ", como explica Helena Águeda Marujo neste artigo do Observador.
Segundo um estudo feito na Universidade de Bristol, no Reino Unido, brincar na natureza tem efeitos benéficos uma vez que uma bactéria presente na terra (a Mycobacterium vaccae) ajuda a ativar a serotonina , contribuindo para a regulação do humor, sono e apetite.


Sem contar com o facto de cerca de metade dos portugueses ter falta de vitamina D, "essencial ao desenvolvimento dos ossos e dentes, mas que também ajuda na melhoria do humor e consequente diminuição da depressão."

Sem contar que a luz do dia é fundamental para o ritmo cicardiano, que, por sua vez, influencia todos os ritmos fisiológicos do corpo humano, a digestão, o crescimento, o sono, a renovação de células, etc, etc, etc. Se há problemas a nível do sono, é possível que uma das causas seja a privação de luz da rua (e esta?). "Para que tenhamos reservas satisfatórias de melatonina durante a noite, temos que aumentar a nossa exposição à luz durante o dia. Uma caminhada de uma hora ao sol da manhã, por exemplo, já garante um bom índice de produção de melatonina durante a noite, a luz controla tanto o desencadear do sinal como sua duração. (POVOA, 1996) in "Luz, sono e saúde", de Sílvia Maria Carneiro de Campos - artigo completo aqui.


Sem falar no sedentarismo, da ligação clara entre o estar activo na rua e o estar concentrado dentro da sala (um potencia o outro), da importância do exercício físico e motor e da coordenação para o desenvolvimento neurológico, para a autoestima e para a autoregulação. E também para a autonomia, para a mobilidade, para a felicidade.

Por todas estas razões, tenho pena das crianças que não vão à rua. E dos pais delas que, muitas vezes, não têm outra hipótese e que transportam esse peso (transportei-o durante o primeiro ano da Isabel na creche, quando nem sempre dava tempo de a levar a passear durante a semana).
Lamento também pelos que não permitem que os filhos vão à rua, na hora do recreio, por receios pouco informados, na minha opinião, e que, por isso, limitam que os filhos dos outros vão [mas também não percebo por que razão não há alternativa para que uns vão com uma responsável e outros fiquem na sala, com outra].


Temos muito a aprender com a cultura nórdica. "Nos países nórdicos, que têm um clima muito mais austero, as crianças andam na rua faça chuva faça sol, faça neve. Em Portugal, cai um pingo e a criança é posta numa estrutura interior. Vou repetir: temos de aprender e ensinar as nossas crianças a serem capazes de lutar contra a adversidade e nós temos uma cultura ultra protetora, superprotetora", pode ler-se nesta entrevista interessantíssima do Observador ao professor da FMH Carlos Neto, que já partilhámos em tempos, em que se fala de estarmos a criar crianças "totós".



As minhas filhas, nesta fase das nossas vidas, têm muita rua. Vivemos no campo, temos cães, fruta para apanhar e flores para regar. Com roupas arranjadinhas ou fatos de treino, têm toda a liberdade para se sujarem. A Isabel lixou o nariz todo a brincar na rua, que assim seja, bom sinal.
Além disso, eu tenho horários privilegiados, por isso, posso levá-las ao parque depois da escola.  
Mas e se/quando deixar de ter? 
O que posso fazer para que elas não respirem ar puro só ao fim-de-semana?!
O que podemos, todos juntos, fazer em relação a isto para mudar mentalidades e exigir que o ensino veja como premente e extremamente importante a vida ao ar livre, a brincadeira ao ar livre?!

[Não são perguntas retóricas, ajudem-me a pensar. Ajudemo-nos].
















Coisinhas de que podem ter gostado:

Vestido e fofo - Bastidor Colorido
Golinha - Catavento
Carneiras - Maria Pipoca


 
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FORBES - A Mãe é que Sabe no TOP5 de blogues de família! OBRIGADA!

Há 3 anos, por estes dias, estávamos a escrever os primeiros textos daquele que viria a ser o nosso blogue, o a Mãe é que sabe. No meio de tantos blogues de família, não sabíamos bem no que iria dar, mas tínhamos sonhos. Talvez o nosso maior sonho fosse chegar a muitas pessoas e fazer a diferença, de alguma forma, na forma como se encara a maternidade. Mais do que um diário, tocar em assuntos que não víamos ser tocados em mais lado nenhum, ou não da forma que achávamos que mereciam, ou não da nossa forma. Quisemos, desde o primeiro instante, mostrar-nos como somos: felizes, infelizes, vulneráveis, fortes, despudoradas, mais ou menos românticas, parvas. Quisemos, desde o primeiro instante, falar de nós, das nossas dúvidas, das nossas certezas. Quisemos, desde o primeiro instante, comunicar. Não negamos (não negámos nunca) que, a par do puro prazer em escrever, em emocionar (e emocionarmo-nos), da necessidade em desabafar e em ter desse lado carinho e compreensão, de ajudar, da vontade de fazer rir, divertir, da vontade de debater e de informar, queríamos também deixar a nossa marca. Fazer uma marca. Criar. Sermos reconhecidas pelo nosso esforço. Sermos pagas para que pudéssemos investir neste cantinho, dar de nós, ver recompensadas as horas e os minutos que lhe dedicamos e em que podíamos estar a fazer outras coisas.

O meu maior desejo é, e sempre foi, partilhar. Emoções, ideias, descobertas. Partilhar amor. Desconstruir mitos. Crescer com a maternidade, tocar em feridas, desconstruir ideias românticas que às vezes fazem com que exijamos mais e mais da vida ou de nós e que nos fazem achar que somos más mães. Exorcizar demónios. Fazer um registo dos nossos dias, guardar memórias. Falar com humor das coisas mais corriqueiras. Falar a sério. Fazer listas parvas de coisas que observamos. Mostrar coisas de que gostamos, que compramos ou que gostaríamos de comprar, ou coisas que nos oferecem e achamos que merecem ser vistas, de marcas giras, de marcas pequenas, de marcas portuguesas, de marcas sustentáveis, de marcas grandes com as quais nos identificamos. Já fomos pagas para escrever. Já fizemos parcerias. Continuaremos a fazer. Sendo fiéis ao nosso estilo, aos nossos gostos. Já recusámos muita coisa com a qual não nos identificamos ou não consumimos ou não queremos que as nossas filhas consumam, nem aconselhamos que os vossos filhos o façam.
Já errámos, já dissemos disparates, já pedimos desculpas, já voltámos atrás, evoluímos e desejamos continuar a evoluir, como bloggers mas principalmente enquanto pessoas. Com a vossa ajuda, também. Quantas vezes já aprendi coisas com os vossos comentários ou com os vossos emails? Quantas vezes me deram coragem e força? Quantas vezes me emocionaram e fizeram chorar? Quantas vezes já corei na rua quando me abordaram e me disseram que gostam de nos ler? Quantas pessoas espectaculares já conheci à custa do a Mãe é que sabe? É impagável. Além de escrever ser altamente catártico, receber abraços em troca, perceber que de alguma forma ajudámos alguém, é a melhor sensação do mundo.

Temos responsabilidade também. Influenciamos. E não me refiro só às pessoas que começaram a fazer desporto impulsionadas por um post ou que foram fazer bolinhos de côco ontem depois da receita que sugeri nos stories do instagram. Ou que fizeram esgotar uns lápis que sugerimos ou um macacão que vesti. Influenciamos na forma como encaramos a vida, os afectos, de como gerimos as birras ou como resolvemos assuntos pessoais, que expomos aqui. É um peso enorme ler que, afastada de casa e dos amigos, somos as únicas pessoas em quem uma mãe emigrada confia. Isto tornou-se ENORME. 

E as coisas enormes às vezes também se tornam difíceis de levar ao colo. Ficam pesadas. Parecem maiores do que nós. Para o bem e para o mal, ter um projecto grande, que chega a tanta gente, é difícil. O escrutínio a que nos expomos, a dureza com que às vezes nos tratam, as palavras que nos dirigem vindas de almas a quem não conseguimos chegar e que se escudam atrás de um teclado, no anonimato, com a simples vontade de nos atacar para se sentirem superiores, sem nos conhecerem intimamente, sem saberem como estamos e de que forma algo nos pode afectar, é um jogo difícil de jogar. Já foi mais difícil, vai-se ganhando calo, criando uma capa, dizendo para nós próprias que aquilo que disseram sobre nós não nos define e diz mais de quem escreve do que de quem é alvo. É um processo. E faz parte. Assumir que nunca agradaremos a todos faz parte do crescimento. O lado positivo de ter o a Mãe é que sabe é mais forte. 

Eu, Joana Paixão Brás, e a Joana Gama, fazemos parte do Top 5 de bloggers de família mais influentes de Portugal, pela revista Forbes. Foi com uma enorme alegria e satisfação que recebemos esta notícia e este reconhecimento. Estar numa lista de bloggers, influenciadores, comunicadores tão experientes e conceituados soube-me a pato [Parabéns à Rita Ferro Alvim pelo primeiro lugar na categoria família, ela merece!]. É uma conquista que nunca imaginei ser possível em tão pouco tempo. É bom, mas bom. Deu-me vontade de sambar. É um "vale a pena", mesmo com todas as dores de parto, com todas as dúvidas e com todos os dias em que a inspiração demora a chegar.

Obrigada, Forbes.
Obrigada, Joaninha (Gama) por seres a melhor parceira [e amiga] que eu poderia ter.
Mas principalmente obrigada a vocês, que nos seguem, que nos lêem, que nos partilham, que nos motivam. 
São 3 anos muito bons. 

2018, nos aguarde.










 
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11.02.2017

10 truques para acabar com birras.

Tendo em conta o que vos escrevi ontem aqui e sendo que a Irene continua a fazer birras, não vejam aqui nada de milagroso. Apenas alguns atalhos que demoraram imenso tempo (e leituras também) a aprender e que funcionam comigo e com a Irene. Tenho esperança que funcionem convosco também. 

A ordem é conforme o que me vai surgindo, mas acho que os posts ficam mais credíveis com números, por isso, aqui vai. 



#1 - Não ter que dizer não directamente. 


Eu sou tortinha e sei que quando me dizem que não que todo o meu corpo se altera. Fico mais hirta (que nem uma barra de ferro, eu sei) e com vontade de contra-argumentar tudo. Às vezes não precisamos de cortar a direito para ter o mesmo resultado e até de forma mais rápida se evitarmos uma birra. A Irene ouve tantas vezes isto que até a mim já me diz. 


"Amanhã fazemos/procuramos/compramos/falamos/brincamos". 


Dar a solução (se for verdade) em vez da negação absoluta. Resulta imenso por aqui. 


#2 - Explicar o motivo, se houver. 

Isto, partindo que a criança já sabe compreender - por acaso, o Frederico e eu falamos com a Irene desde sempre como se ela compreendesse e não me lembro de não ser eficaz, acho que a distraía e habituou-nos bem. "Filha, tens que lavar os dentes porque senão os bichinhos comem os dentes, ficas com uns buracos que são as cáries e que fazem doer os dentinhos e depois...". Ou tens de vestir o casaco, senão podes ficar doente com o frio e depois queres ir ao jardim, mas tens de ficar em casa a tomar ben-u-ron". Estou a rir-me. Realmente sou muito específica mas funciona. Ela cala-se, nem que seja para eu não falar mais disso com ela por estar farta. 


#3 - Exagerar o motivo.

Não é verdade que, se ela adormecer, o cabelo vá ficar maior, maaaaas, o cabelo cresce todos os dias e, à noite, também terá o seu processo, não é? Sabendo que ela quer ter o cabelo comprido... e que não é mentira... Que mal tem dizer isso? Quando a de "dormir para descansar e amanhã ter energia" não resultar...? Sei que isto deve estar algures incorrecto numa teoria qualquer, mas parece-me relativamente inofensivo. 

#4 - Ser criativo.


Só conseguirmos isto se andarmos descansadas e bem da cabeça. Esqueçam a criatividade quando estão a pensar se se querem divorciar ou se acordam seis vezes por noite para dar de mamar ou biberão ou por a chucha que caiu. Não dá. Maaaaaas e "lava os dentes para a Skye de peluche aprender a lavar os dentes contigo que sabes tão bem" funciona... Se calhar vamos ter aqui grandes criativas. Os amiguinhos peluches aprenderem com eles, eles serem o exemplo ou, no caso da Irene, usar os personagens que ela vai interpretando ("Será que o Rafa consegue ir já para o banho?") resulta muuuito bem. 





#5 - Recompensa Final

Não estou a falar de recompensas pelo bom comportamento ou mau. Nunca pensei muito a fundo nisso, mas superficialmente não me parece adequado criar uma gratificação para um comportamento expectável, mas talvez venha a mudar de ideias. Para já, por exemplo, a Irene sabe que se engonhar muito até ir lavar os dentes e o nariz (cheia de alergias, tadinha) que depois não há tempo para histórias. E não há. No dia seguinte acontece tudo mais rápido ou, então, não há histórias. Simples. Encurta-se o tempo da história e deita-se a horas razoáveis na mesma. 

#6 - Não ter medo da birra grande

Houve uma altura em que a Irene queria que eu ligasse o ar condicionado para ela adormecer. Depois, como a luz iluminava demasiado o quarto, isso deixou de ser porreiro porque ela não relaxava. Disse-lhe que se ela voltasse a dar saltos na cama (ou lá o que era) que tinha de desligar o ar condicionado porque era por causa da luz que ela não estava a descansar. Fez na mesma. Desliguei o ar condicionado. Foi uma birra gigante (ainda por cima cheia de sono que era hora da sesta), mas expliquei-lhe que era uma "lição" e que não podia voltar a ligar o ar condicionado por muito que ela pedisse. E ainda hoje funciona quando digo que tenho de fazer algo para ser uma lição. 

#7 - Ditar as regras enquanto se tem atenção

Antes de ir para o jardim e depois de perdermos a atenção deles, explicar o que vai acontecer e como. "Irene vamos para o jardim, vais brincar muito, mas quando a mãe chamar é para ir porque temos de ir jantar e blá blá". Minutos antes digo: "Irene, só mais um bocadinho que temos de ir embora, depois quero que venhas ter comigo ali à porta e vamos as duas". Refila sempre um bocadinho (consoante o cansaço), mas rapidamente lhe digo "abres tu o carro com o comando" ou assim e passa-lhe rápido. 

#8 - Reconhecer as emoções

Se começa a chorar porque está triste ou a bater em coisas porque está zangada, reconhecer os sentimentos dela, que já percebemos e explicar-lhe o que se está a passar. Depois de vermos o filme Divertidamente juntas é fácil explicar-lhe que ela tem o Sr. Medo e o Sr. Zangado na cabeça e, por isso, é que se está a passar, mas que podemos ajudar o senhor medo(varia consoante o que se passa, até poderá passar por um mantra qualquer) e depois o Sr. Zangado vai dormir também.

Foto Pau Storch


#9 - Cumprir as promessas

Importante mantermos a nossa palavra, mesmo quando achamos que eles já se esqueceram para que a confiança deles em nós funcione a nosso favor. A Irene cortou a pasta de dentes que tinha acabado de lhe oferecer sem querer. Ficou muito triste e fez uma birra gigante por a deitar no lixo e eu disse para ela não se preocupar que um dia a mãe comprava uma. Comprei. Agora, já sabe, que sempre que eu disser que não há problema que resolvo, que vou resolver. Relaxará.

#10 - Saber como funciona o cérebro deles.

A brincar, a brincar, saber como é que eles vêem as coisas e porque é que pensam como pensam ajuda imenso. Se os saltos de desenvolvimento e picos de crescimento nos bebés fazem com que eles tenham comportamentos irreconhecíveis nalguns meses, também nos restante crescimento tal acontece. Ajuda a despirmo-nos da culpa e de tudo o que temos implantado na cabeça sobre podermos estar a fazer um mau trabalho e vermos as coisas com maior amor e empatia. 


Num outro post poderei dar sugestões de leituras, sei que deve haver mais mães por aí que gostem de queimar pestanas e que gostem de ver os resultados práticos a surgirem bem à vossa frente :) 



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