12.26.2014

Regresso ao nono ano (ou a importância de tentar)

Estou na segunda fila, sentada na secretária, a usar o esquadro e o compasso. O professor chama-me à secretária dele. Estamos na aula de Educação Visual do nono ano. Pergunta-me, assim do nada, que profissão gostaria de ter. Respondo a gaguejar, como quase sempre.

"-Quero ssser jojornalista."
"-Jornalista? Mas gaga não pode ser jornalista! A Joana tem capacidade para muitas coisas, mas essa não me parece! Digo isto para o seu bem!"
Engoli em seco. Os meus olhos encheram-se de lágrimas, que consegui a muito custo controlar.

Nesse dia, cheguei a casa e enfiei-me na cama vestida. Não quis comer, pela primeira vez não quis falar. A almofada ficou ensopada. Adorava ler, escrever e falar, mesmo que demorasse mais do que os outros, mesmo que fosse alvo de chacota. Punha o dedo no ar nas aulas, pronta a participar, mesmo que isso significasse chamarem-me "cobrinha". Não por ser má, longe disso. Simplesmente porque carregava nos "esses", arrastava-os nas palavras, repetia-os. "-Ssssssssstora, sssssserá que isso ssssssignifica..." Risada total. Todos riam, menos eu. Continuava com a minha questão. Queria lá saber. Queria fazer perguntas. Era gaga e então? Era feliz, tinha amigos, tocava guitarra, cantava nos Onda Choc (sim, nos Onda Choc, o sonho de qualquer miúda daquela idade), era boa aluna, gostava de mim, independentemente da minha gaguez.

Mas naquele dia não. Naquele dia era um professor, do alto da sua experiência, que me aconselhava a não seguir o meu sonho, "para o meu bem". Não me lembro de pregar olho naquela noite.
Lembro-me da minha mãe me dizer que ele era parvo e que eu podia ser o que eu quisesse. Ou que, pelo menos, podia tentar.

Hoje sou tudo aquilo que queria ser no nono ano. Faço perguntas, trabalho com palavras. Escritas, ditas. Respiro fundo e faço a magia acontecer.
Confiei na minha mãe e acreditei em mim.

É este o papel de um pai. Mesmo conhecendo as limitações dos filhos, não os privar de sonhar, de correr atrás, de lutar. Há limitações que deixam de o ser, se acreditarmos muito, se nos esforçarmos muito.

Por isso, vou dizer: "Isabel, o mundo é teu. Vai. Cá estarei, se não conseguires. Mas tenta."





12.25.2014

A maior gaffe deste Natal vai para...

... Joana Paixão Brás!

Então um dos poucos presentes que ofereci foram uns sais de banho cheirosos. Até aqui nada de mal.

Só que acontece que a pessoa em questão não tem... Tchan tchan tchan... Banheira! 

"Epa isto cheira tão bem! Mesmo bom para usar lá no poliban" (gargalhada geral).

Ainda sugeri pôr num alguidar com água morna para fazer um spa de pés... mas acho que só me enterrei mais. Até que me lembrei "passam um fim-de-semana romântico lá em casa e usam a banheira"

Ainda agora me desmancho a rir ao lembrar-me da minha azelhice. Cabeça de mãe fica assim destrambelhada de todo, não fica?

Se tiverem maior gaffe avisem! (Duvido que me superem, teriam de se esforçar muito!!!)



12.24.2014

Nunca mais é meia-noite



Lembram-se de esperar, envoltos em curiosidade e magia, pelas doze badaladas? 
De mexer nos presentes, abanando os embrulhos para tentar descobrir o que estava lá dentro? 
De perguntar 5 vezes a cada minuto: "já é dia 25?"
De inventar mil e uma estratégias para passar o tempo?
Ou de haver anos que já era meia-noite e meia e ninguém tinha dado por isso?
De comer tantos doces e chocolates até ficar com dores de barriga?
De estar na cozinha a rapar os tachos e a desajudar?
De ficar a olhar para cada enfeite na árvore e para as luzes a piscar?
De ir apanhar musgo para fazer o presépio?
De ver horas a fio os anúncios na televisão até os saber de salteado?
De cantar a música da Leopoldina (e de ainda a saber de cor!)?
De acordar dia 25 e ir à sala ver o presente que o Pai Natal tinha deixado? 
De percorrer as páginas e páginas de brinquedos do Modelo ou do Lidl e de fazer bolas e cruzes a escolher os que mais gostávamos?
De escrever a carta ao Pai Natal a dar conta do quão bonzinhos fomos?

Este vai ser o primeiro Natal da Isabel. Não vai ficar impaciente à espera da meia-noite nem faz ideia de quem é o Pai Natal. Muito menos esperava passá-lo no hospital com ela. 

Mas eu estou curiosíssima para saber se daqui a uns dois anos vai gostar tanto desta época como eu!


(Fotografias tiradas no dia da festa de natal da escola, já em casa e super bem-disposta. Saudades de vê-la assim, feliz!)