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9.27.2018

Ela foi violada. E agora dizem-lhe que não foi violação.

"Não basta não haver consentimento para haver violação" disse a representante sindical de juízes. Isto relativamente àquele caso bizarro, que me deixou completamente mal disposta, em que dois homens, um barman e um porteiro de uma discoteca violaram uma mulher inconsciente na casa de banho da discoteca. Disseram a esta mulher, e continuam a dizer, que não houve violação. A esta mulher que teve a coragem de apresentar queixa, submeter-se a exames, que ficou com a vida lixada, dizem que foi apenas uma "mediana ilicitude" porque houve "sedução mútua" (ela seduziu os dois, foi isso?...). Houve também uma chamada telefónica de um deles a confirmar que ela estava toda "(...)  toda fodida (...)" e "(...) Não. Ela estava toda desmaiada no quarto de banho (...)." Mas o tribunal, os tribunais, acharam que não houve danoss físicos [ou são diminutos] nem violência".

Palmas. Palmas para tudo isto. Em que mundo vivemos para que se considere que estes "homens", tal com diz a relação, "estão perfeitamente integrados, profissional, familiar e socialmente". Há uma desculpabilização de criminosos que não faz nenhum sentido, que me revolta. Uma pena suspensa e pronto. QUem me diz que não o tinham feito antes? Quem me diz que não foi pensado e combinado? Quem me diz que não o voltarão a fazer? Que mensagem passamos às vítimas? Não vale a pena exporem-se e queixarem-se que vão ser humilhadas e o ónus da culpa vai ser muito vosso porque "estavam a pedi-las" e merdas assim. Há muito mais que dizer sobre esta notícia. Eu fico um bocado doente com isto, a sério. Eu tenho filhas mulheres e queria que este mundo fosse um lugar melhor para elas.


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O meu amigo Pedro Goulão, que vai lançar agora o primeiro livro (A Palmeira) -  que eu vou levar na lua de mel (não o Pedro, mas o livro) escreve muito bem e disse tudo. Passo a citá-lo:

"Sedução mútua", quando um dos sedutores está inconsciente.
"Violência reduzida", porque a vítima não está em condições de resistir.
A relação do Porto volta a envergonhar-nos enquanto comunidade. Os juízes capazes de lavrar uma sentença deste género, não só deviam ser liminarmente afastados, como co-responsabilizados pelos efeitos desta espécie de "justiça".
Isto não é só ser mau no seu trabalho. Isto é deixar que os piores dos preconceitos sobre as mulheres sejam o padrão c...om que é avaliada a violência sexual e não só sobre elas. O exercício de distorcer para encontrar atenuantes e branquear para não ver agravantes por forma a evitar uma prisão efectiva é simplesmente obsceno.
Se levar uma mulher inconsciente para uma casa de banho e violá-la é de mediana ilicitude então que caralho é uma elevada ilicitude?
É assim tão extraordinária a expectativa de uma mulher poder sair à noite sem se arriscar a que alguém a arraste para uma casa de banho inconsciente e a viole e depois se safe?
É preciso que se introduza na lei penas efectivas mandatórias para acabar com este abuso de discricionaridade?
Esta pena suspensa é um apelo à barbárie. Um dog whistle a todos os que acreditam que os outros e em esmagadora maioria as mulheres, são nada mais do que subhumanos, cuja vontade é irrelevante.
Esta pena com a assunção que não é traumático o suficiente esta mulher saber o que lhe aconteceu demonstra uma inumanidade, uma incapacidade de empatia que roça, se não ultrapassa, os limiares da psicopatia.
Se é difícil imaginar o que esta mulher passou, passa e passará, o medo de voltar a confiar, de sair, de beber um copo, a realização de que, para a justiça ela não vale nada comparado com quem lhe fez mal, não é difícil perceber que isto é grave, terrível, inumano.
Que isto tenha passado não um, mas dois degraus da justiça portuguesa, com este resultado é um vómito.
Que quem seja capaz de fazer isto a uma mulher não se arrependa de o fazer chama-se psicopatia.
Quem deixa que isto saia impune é outra coisa. Pior.
E mais grave, é um padrão. São demasiadas decisões más, que violentam novamente a vítima. Tomadas por homens e mulheres. Nos vários escalões da justiça, em patamares de recurso, criando jurisprudência.
Com a cumplicidade ou indiferença dos seus pares.
Para que raio serve o Conselho Superior da Magistratura?
É assim que são formados os nossos Juízes?
Vergonha. Vergonha. Vergonha."

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"Não basta ter uma toga para se ser juíz.
Não basta ter uma toga para se ser juiz em causa do presidente do sindicato dos juízes.
Não basta ter uma toga para nos portarmos como pessoas.
Não basta ter uma toga para ter empatia.
Não basta ter uma toga para virar o mundo do avesso e tornar a vítima, por ser forte e ter feito tudo aquilo que lhe era humanamente possível para obter justiça dos tribunais, menos relevante que os seus algozes....
Não basta ter toga para nos convencer que dois homens que põem uma mulher inconsciente, a levam para uma casa de banho e a VIOLAM, PODEM SER CONSIDERADOS BEM INTEGRADOS NA SOCIEDADE.
Porque senão a sociedade está um bocadinho fodida além da conta. Assim, não é bem uma sociedade, é um drama pós-apocalíptico.
Não basta ter uma toga para poder, com uma decisão esdrúxula, abrir as portas à justiça popular e não esperar críticas ou desencadear tragédias.
Não basta ter uma toga, para insultar todas as vítimas de violência e abusos sexuais e não esperar a nossa reacção.
Não basta ter uma toga, para com uma decisão destas assustar vítimas, as que já o foram e ainda hesitam em se queixar e as que hão de vir, como as estatísticas tragicamente demonstram, e pensar que nós, enquanto sociedade vamos deixar passar isso em claro.
Não basta ter uma toga para que se possa estancar princípios de decência básica e progresso. De que todos temos direito inalienáveis. um deles a liberdade de escolha. O direito a sentirmo-nos seguros, por sabermos que ser um predador, ou dois, não é premiado. Que ser uma vítima, não diminui essa vítima aos olos da lei e da sociedade.
Que a culpa é de quem comete o crime e não de quem não se podia defender.
Parem com esta merda do ela estava a pedi-las. Não estava, senão não estávamos em tribunal e todos eram felizes.
Nenhum mal entendido termina com dois tipos a violarem uma mulher numa casa de banho.
Quem está inconsciente, não pede, não seduz e não resiste. Está inconsciente.
Não basta ter uma toga para se ser juiz.
Mas consegue-se perfeitamente ser-se um merdas numa."
Pedro Goulão

Obrigada, Pedro, por expressares tão bem o que sinto.



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9.25.2018

Eu não sabia que ia ser assim.

Não tenho grandes dramas na minha vida. Mesmo os que o possam ter sido, ultrapassei-os com rapidez. Tenho alguns fantasmas, mas quase nunca deixo que me assombrem. Sou uma pessoa feliz. Não sempre. Acho que isso não existe. Às vezes sinto-me uma mimada por exigir mais da vida, dos outros e por ir recuperando alguns sonhos, tendo novos. Já aqui o disse, aos 32 anos ainda não sei bem o que sou, o que quero ser nem o que serei. Acho que nunca o soube. Estou, no entanto, muito bem profissionalmente, sinto-me acarinhada e a desafiar-me (estou num trabalho totalmente novo, sou conselheira de comunicação de algumas marcas e nunca tinha experimentado nada parecido: sempre trabalhei em televisão. Sempre. E afinal também consigo fazer outras coisas).

Eu não sabia que ia ser assim. Não sabia que teria duas filhas e só depois me casaria. Não sabia que passaria por bastantes trabalhos, conheceria tantas pessoas, ficaria em casa quase dois anos, que faria biscates e locuções, que me convidariam para entrevistas ou para falar sobre educação em conferências ou sobre amamentação, que teria um blogue e que seria mais ou menos conhecida, que teria gente a acompanhar o que vou dizendo, a contrariar ou a apoiar as minhas opiniões e convicções e que ajudaria algumas pessoas em algumas situações da vida. Que ajudaria algumas marcas a venderem os seus produtos ou que iria escrever por prazer sobre a minha vida, sobre o que vejo e o que sinto.

Não fazia ideia. A vida foi-me trazendo até aqui. E sabem que mais? Estou a gostar. Estou a gostar de ser várias coisas ao mesmo tempo, estou a gostar de conciliar a minha vida profissional com a minha vida de mãe. E se há dias em que sinto que não chego a todo o lado, há outros em que confirmo que estou a fazer algumas coisas bem feitas. Já me chateei comigo por não ser apenas uma e uma coisa, por nunca saber bem o que me faz mais feliz, mas agora vejo que não tem de ser taxativo. Que posso ser muitas coisas e experimentar outras tantas: não estão bem a ver a minha felicidade em estar num ensaio com a banda da minha empresa e cantar, coisa que não fazia há que séculos. É bom ter muitos amores, muitas paixões. 

Se também são assim meio artistas de circo, se gostam de variedades e sentem que não encaixam a 100% numa só coisa, que estão algumas vezes insatisfeitas e precisam de hobbies, então sintam-se compreendidas. Eu sou assim. Não gosto só do amarelo.

Eu não sabia que ia ser assim. Mas eu sou assim. E ainda bem.

Fotografia Yellow Savages

Fotografia Yellow Savages

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9.17.2018

Parvoíce ou vocês também sonham com estas coisas?

Estava a estender a roupa (coisa que fiz muito este fim-de-semana e que, apesar de não adorar, me faz reflectir) e comecei a ouvir crianças a saltarem para a piscina e a nadarem. Há um condomínio em frente ao meu prédio com piscina. As minhas filhas estavam na sala a brincar e a esbofetearem-se (alternam muito entre uma coisa e outra). Era domingo e estava calor. E eu comecei a deixar-me invadir por pensamentos menos bons. A chatear-me por termos estado a manhã toda em casa, de volta da louça, da roupa, do almoço, das arrumações. De vez em quando fico com peso na consciência e sinto-me um bocado culpada, a achar que me organizo mal e que o fim-de-semana deveria ser só para elas. “Se morássemos ali, já estava feito. Descia até à piscina, uns mergulhos, umas brincadeiras com os vizinhos e já não me iria sentir assim”. Lamentei vivermos num segundo andar sem elevadores e sem garagem (já apanhei multa de estacionamento e tudo à custa disso). Perguntei-me se algum dia lhes poderia dar isso. Imaginei-nos numa casa com jardim a receber os nossos amigos numa almoçarada. E parei por ali. Que parvoíce. Comecei a fazer o exercício contrário. A pensar nas coisas boas das nossas vidas. A não me julgar pelas minhas escolhas. A não exigir mais das nossas histórias. Lembrei-me do quanto os meus pais suaram, do que cresceram, dos desafios a que se propuseram. Da equipa fantástica que fizeram para que o meu pai tirasse o curso superior já com filhos. E orgulhei-me. Orgulhar-me-ia de qualquer forma só pelo amor com que sempre nos educaram, mas o facto de terem conseguido contrariar o expectável e terem ultrapassado o inexpugnável fez-me perceber a fibra de que eram feitos. E o facto de nos terem falhado com nada do que é importante, comida, amor e atenção, de se terem desdobrado para me levarem até Lisboa para os meus ensaios nos Onda Choc para cumprir um sonho (mal eu sabia que contavam todos os escudos nessa altura...), de nos terem dado uma infância muito feliz... é impagável.

E agora estava ali entre uma mola e outra, a sonhar com uma casa com piscina ou com um quintal onde pudessem correr. Não há mal nenhum nisso, mas, sei-o bem, é muito improvável que aconteça. Sou ambiciosa mas não a esse ponto sequer e acho que não vale tudo para que o conseguíssemos. Prefiro manter os pés bem assentes na terra, não me endividar do que procurar a felicidade em coisas que não sei se nos trariam isso ou só preocupações. Não sei como estão os pais daqueles miúdos que ouvi rir na piscina. Não lhes conheço as histórias, os medos, nem sei sequer se estão felizes.

Por isso, o exercício que (me) proponho é este: ver o copo meio cheio no que somos, alcançámos e não nos cobrarmos mais nem nos sentirmos infelizes pelas nossas circunstâncias. Quando temos o mais importante: saúde, amor, uma família unida e sonhos simples, tem tudo para dar certo. 

Com o que sonham vocês?

No jardim ao pé da nossa casa <3

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9.05.2018

Será errado comparar a minha filha a um cão?

A minha melhor amiga tem uma cadela já há algum tempo. A cadela tinha sido atacada pelos irmãos por ser a mais fraca da ninhada... estava muito nervosa mas a Susana ficou com ela. Não a conhecia de lado algum, foi alguém que sugeriu e ela aceitou a Lua. 

A Lua dava cabo da cabeça da Susana. Extremamente ansiosa e, por isso, maluca na rua. Ficava louca e ladrava muito quando via outros cães na rua, sempre demasiado entusiasmada com tudo e nada obediente. 

A Susana ficou esgotada de tentar ir contra ela. Primeiro ainda tentou a "autoridade". "Ela deve fazer isto por não me respeitar, tenho de me dar ao respeito". Nem por isso resultou. Apenas esgotou mais as duas.

Depois, reparou, que quando ela estava mais calma, a cadela também estava. Que, quanto mais tranquila e grata estava por ter a Lua consigo, mais tranquila ficava a Lua. 

Deixou de fazer de todos os assuntos uma procura de repeito da Lua por si e ponderar bem o que deve ser imposto, ensinado e exigido, balançando com momentos de afecto, de convívio e de amizade. A Susana passou a respeitar a história da Lua e a Lua começou a poder ver a verdadeira dona. 

Agora conhecem-se e são amigas. Nunca foram as duas tão felizes. 

Lembro-me muito da história da Susana e comparo-a comigo e com a Irene. Reparo que quando estou mais centrada e presente a Irene fica irreconhecível. Fica calma, doce e procura-me para ter e dar miminhos. A diferença é enooooooorme. Desde a enroscar-se em mim quado lhe conto histórias quando a vou adormecer. "Normalmente" - quando estou nervosa ou desalinhada - somos apenas verbais e reactivas. Parecemos duas linhas em paralelo quando não está tudo ok comigo. 

Tenho conseguido cada vez mais que sejamos crochet. Estamos entrelaçadas. Fisicamente até. Cada vez mais próximas. A recompensa de estar presente e calma é tão grande que a motivação para não dar corda a determinados pensamentos ou comportamentos é cada vez mais forte. 


Ela é o meu espelho e ainda parece que não tem tudo muito vincado nela. Ainda vou a tempo. Não que esteja a dizer que tudo o que fiz enquanto estava em modo automatico não estava certo, mas ainda vou a tempo de mostrar à minha filha que a mãe é mais do que "vá, Irene, temos que ir" e "agora não posso" e "já te disse umas três vezes". 

Eu sou tão fixe e ela também. Seria uma pena que depois chegasse à idade adulta sem conhecer a mãe e eu sentindo que nunca estive completamente ligada a ela. Quero conhecê-la e para isso tem que haver tempo. Custe o que custar. 

Até para conseguir chegar cada vez mais a ela quando ela precisar de mim. Quero criar confiança entre as duas, ir o mais profundo que conseguir. Quero ensiná-la o que é amor - sendo que eu ainda estou a perceber como se ama e se é amada também. 

Quero que, quando eu disser "a Mãe está aqui" ela saiba o que quer dizer para que, um dia, quando disser aos filhos, saiba dizê-lo com o corpo todo. 

A Mãe está a aprender a estar aqui. 

9.02.2018

Ainda engravidamos mas é as duas.

E não uma com a outra. A Joana Paixão Brás tem o seu David, ser esse que atura três pipis em casa e continua com um sorriso saudável nas fotografias. Parece inclusivamente estar a gostar. Ainda no outro dia a Joana fez um post a dizer que a ver fotografias da Isabel com a Luísa lhe davam uma traulitada no relógio biológico (leiam aqui em Tenho o relógio biológico todo atrofiado) e eu... nestas "férias de Irene" olho para bebés com vontade de lhes dar uma trinca. 

"Pior": no outro dia, a Irene pediu para ver vídeos de quando era bebé (outra vez) e lá fomos. Digo sempre que sim porque é uma oportunidade muito importante de lhe contar como foi desejada e amada pelos dois pais desde que nasceu, fazendo-se sentir especial (ainda mais) por ter - além da sua própria experiência - uma outra garantia (as vezes que forem necessárias) que a mãe e o pai e os avós a amam profundamente. 

Ao mesmo tempo que parece que foi ontem que ela gatinhava mediocremente (nunca chegou a gatinhar como deve ser, ahah) e lambia os pés das cadeiras (há sempre uma altura em que os bebés lambem ferro, não é?), em que encaixava num braço apenas e... acima de tudo, em que ela adormecia no meu peito, verticalmente, depois de mamar quando a punha a arrotar....  já passaram 4 anos. 


Só devo ter um segundo filho quando tiver feito as pazes comigo pela experiência de parto que tive, pela forma como me lembro de quando a Irene tinha meses... Ainda me parece ter sido tudo um terror, mas cada vez menos. É até me esquecer. Depois aí, é aproveitar os dias em que não esteja "com os copos" (porque Estou a usar um copo menstrual neste momento) e, zinga, ter mais um bebé.  Quero redimir-me e quero que a Irene tenha irmãos. 

Agora que já me separei, agora que volto a estar feliz (e tanto), sinto que voltei à idade que tinha antes de ter a Irene - 27 anos. E que, como tal, sinto que quero viver o tempo com tempo. Não consigo ainda ter força e vontade para malabarismos e para escolhas que, para mim, são difíceis.

A maternidade em mim é a minha força e também calcanhar de Aquiles. Diz-me muito ou praticamente tudo. Puxa o meu perfeccionismo, ansiedade, ambição, total atenção, coração inteiro. Cansa-me e completa-me. Ter um outro filho agora seria como ter dois empregos (que muita gente tem, bem sei), mas não consigo ter força. Ainda nem consigo sentar-me no sofá quando chego a casa. Quero também dar tempo à Irene para me ensinar mais. Ainda preciso. 

Um dia será. Já olho para bebés. Já me apetece trincá-los. Sou cada vez mais feliz e é quando estamos felizes que devemos pensar em bebés. 

Posto isto, queria só dizer-vos que se estiver a olhar para os vossos bebés e a sorrir ao mesmo tempo que não os vou meter no bolso. Ando com esse olhar assustador a resolver coisas em mim enquanto o meu coração cresce e a minha cabeça tenta sintonizar com ele. 

Se me perguntarem, acho que a Joana aqui na loucura do casamento e da lua de mel, ainda leva o David para mais uma aventura, ahah. Vamos abrir um site com apostas? Quem vai ao próximo primeiro? ;)



8.24.2018

“Menti no trabalho: disse que o meu filho não tinha sido planeado”


Uma amiga confessou-me um dia destes que quando anunciou que estava grávida no trabalho e perante a questão das colegas se o filho estava nos planos, ela não conseguiu ter coragem para dizer que sim. “Foi um disparate, mas fiquei com vergonha e até receio de ficar mal vista”.

Acredito que, apesar de parecer um disparate, isto aconteça muitas vezes, perante colegas e principalmente perante as chefias. Engravidar nosso país é, infelizmente, visto como ir ali fazer umas férias (intermináveis) ou que a partir desse momento não podem contar connosco como até ali tinham feito. É como se houvesse um antes e um depois da profissional. Primeiro são as consultas, os exames, as baixas, depois a licença, depois a assistência e as doenças, a redução de horário, as reuniões nas escolas, as idas ao médico e ao centro de saúde, as viroses que se espalham por todos os membros da família e lá se vão as reuniões marcadas para as 18h30 da tarde, que pena, e lá se vai a disponibilidade que até ali era de 100%, a responder a chamadas à hora de jantar e a trabalhar madrugada dentro, todos os dias. As mulheres passam a ser vistas, e vezes até por mulheres, como alguém que arranja muitas desculpas para não trabalhar. Acham que nunca mais encarará o trabalho da mesma forma. Chegam a achar injustas as “benesses” (os direitos) que essas mulheres têm (ou os filhos delas). É incrível como nem a baixa taxa de natalidade no país, que está a deixar de assegurar a continuidade, é motivo de encorajamento das mulheres a terem filhos. E o facto de ganharem mundo e de ganharem uma flexibilidade gigante, de se redobrarem e chegarem a todo o lado – mesmo muitas vezes privadas de sono – nem o facto de darem tudo por tudo para continuarem a assegurar o seu trabalho para pôr comida na mesa parece suficiente.

Não vou ser hipócrita. Eu, infelizmente – não me orgulho mesmo nada – lembro-me de, uns aninhos depois de ter começado a trabalhar – ficar meia revoltada (nunca o expressei para com essa pessoa, menos), quando ela tinha redução de horário e tinha de ser eu a ir fazer todas as reportagens a 400 kms, às vezes em dias seguidos – uma vez calhou Porto e no dia seguinte Algarve. Custava-me. Mas com quem eu devia ter ficado chateada era com a minha chefia, que deveria ter arranjado outra solução ou posto mais uma pessoa na equipa, para que nos fôssemos alternando. Não era aquela mãe. Depois fui mãe e apercebi-me disso.

Termos um filho, termos dois filhos e até três deveria ser encorajado, caso seja essa a nossa vontade (e ainda melhor caso seja, de facto, planeado, desejado e sonhado). Deveria haver mais formas de gestão de equipas, mais possibilidade de trabalhar a partir de casa, mais possibilidade de fazer trabalho a tempo parcial. Deveria haver também mais equidade na distribuição de tarefas domésticas, as enfermeiras no centro de saúde não deveriam ficar ainda espantadas com o facto de ser um pai a acompanhar as consultas, as reuniões não podem continuar a ser agendadas para as 18h30 (independentemente de ser com homens ou mulheres).

Há muito caminho a fazer para que ter um filho não seja visto como um empecilho para uma empresa. Há muito caminho a fazer para que não haja medo de assumir: eu escolhi ter este filho.

 

Mais alguém teve medo de assumir?
(comentem em anónimo caso tenham receio de represálias, etc)
imagem pixabay.com/pt

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8.02.2018

Não tive pais perfeitos

Não tive. Não levávamos sempre cinto, até cheguei a ir deitada. Não comíamos comida biológica e os sumos nem sempre ficavam para os dias de festa. Ouvi gritos e algumas discussões. Ralharam-me e cheguei a levar palmadas. Preocupei-me com cada um. Nem sempre se comportaram como supostamente deveriam. Foram injustos por vezes. Conheci-lhes fragilidades.

Só que dormi na cama deles quando tinha pesadelos. Ficávamos os quatro na ronha de manhã enquanto o meu pai contava anedotas e éramos alvo de ataques de cócegas. Tivemos férias incríveis com o pouco que tinham e nunca sequer senti que tínhamos pouco. Contaram-me histórias, deixaram-me brincar na rua, sujar-me, brincaram comigo. Ensinaram-me a ser gentil com os outros e a não dizer mal dos outros. A ser construtiva. Deram-me o colo e o mimo todo. As saudades que eu tenho daqueles serões a ver o Fintas e Fintas, o Herman Enciclopédia e das gargalhadas que nos levavam às lágrimas. Chorámos uma vez no chão de tanto rir, lembras-te, mamã? E quando nos revezávamos a coçar costas um ao outro, pai?
Ensinaram-me a ser organizada, a estudar e a lutar pelos meus sonhos. Estudaram comigo, ajudaram-me nos trabalhos. Perderam fins-de-semana descansados para que eu fosse ensaiar no coro e nos Onda Choc. Deram muito deles para que crescêssemos bem e felizes. Confiaram em mim, deram-me asas. Não desvalorizaram os meus medos, os meus desgostos amorosos, souberam ouvir-me e confortar-me. Mostraram-me sítios lindos e sentimentos lindos. Sofreram comigo quando eu sofri, já mesmo em adulta, na biópsia, na operação, nos partos, nas dores e nas dores de crescimento. Quando decidi despedir-me e ficar em casa uns tempos com as miúdas, apoiaram-me. Deram-me casa. Conforto. Estiveram de braços abertos, sempre. Estão sempre. 

Os meus pais não são pais perfeitos porque não são pessoas perfeitas, nem tentam ser. Claro que devemos sempre tentar melhorar, crescer emocionalmente e sermos melhores pessoas por nós e pelos nossos filhos. Mas o mais importante, o tempo de qualidade, o carinho e o coração nos olhos e no corpo todo, o exemplo de como se tratam as pessoas e de como podemos agarrar a vida com as nossas próprias mãos, é o que realmente importa.


Paremos de tentar ser perfeitos aos olhos dos nossos filhos, quando o que eles querem e precisam é tão somente que os olhemos nos olhos. 




7.25.2018

Como são os avós de hoje em dia?

É sempre um exercício muito pouco sociológico e com base em experiência própria e na dos que me rodeiam, espelha 0,000001 da realidade provavelmente, mas estas foram as conclusões que retirámos de um jantar de amigos: os avós de hoje, regra geral, aproveitam especialmente a "parte boa" da relação e não sentem (e/ou não podem ter) tantas obrigações. Isto porque os avós de hoje ainda trabalham e ainda precisam de ter tempo para si próprios, ainda são novos de espírito, e sentem que têm muito para viver, ainda querem aproveitar a vida e gozar de umas férias descansadas, em silêncio, recuperando o tempo perdido; ainda querem sair à noite ou ir ao teatro ou ao cinema ou a um concerto; ainda querem ir para um hotel ao fim-de-semana com o namorado(a); ainda precisam de sentir a vida a pulsar. Muito menos ir buscar à escola. Menos ainda ficar com os netos em casa enquanto os pais trabalham: não tenho uma única amiga a quem isso aconteça (só uma colega e o neto já é mais velho, tem 12 anos) e acho que só tenho uma minha vizinha que fica com a neta até às 19h, mas deve ser cada vez raro.


Tenho mixed feelings relativamente a isto. Já tive pena por as minhas filhas não terem essa oportunidade quando são muito pequeninas - o que me fez querer ficar em casa ano e meio com a Luísa-, mas, a bem da verdade, não trocava a juventude e a força dos meus pais por nada. Acho até percebo aqueles avós que, mesmo reformados, não iriam adorar ter os netas em casa. Percebo. Eu acho que, caso um dia venha a ter netos, também não me iria apetecer muito, após anos e anos a criar duas pessoas, não ter finalmente o meu espaço e o meu tempo, as minhas rotinas e as minhas necessidades. Pensando bem, eu não tive isso enquanto neta e não acho que me tenha feito falta. 


Depois falámos também da perda daqueles hábitos de família que pareciam estar enraizados na nossa cultura como o “domingo é almoço na casa dos avós”. Por um lado, é uma pena (gostava de trazer para casa restos em tupperware - ahah brincadeirinha), mas, pensando bem, gosto de não ter planos fechados para, enquanto família, podermos fazer o que nos apetecer, estarmos com quem quisermos, ir passear, o que surgir. Se calhar é bom que nada seja estabelecido e rotineiro a esse ponto e que vamos marcando à medida das nossas vontades, em casa do avô, da avó, dos avós, cá em casa (muito raro, sorry ahah) ou num restaurante ou... nada. Não combinar nada também sabe bem.



Os meus pais e os meus sogros, apesar da distância física, são presentes, vêm apagar muitos fogos (por exemplo, quando a Luísa teve aquele problema na anca, a sinovite temporária da anca, todos se revezaram para que eu e o David não faltássemos muito ao trabalho - só fiquei em casa com ela dois dias inteiros, espaçados), noto que gostam muito de estar com elas e que percebem que eu e o David precisamos de ir descansando e tendo uns momentos a dois, pontualmente. E elas adoram-nos. Eu sei que temos mesmo muita sorte. <3




Avó e neta a combinar na roupa (foi ao acaso eheh).

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Vou fazer um detox... de internet.

Uma blogger dizer que está a pensar seriamente em fazer um detox de internet deve ser mais ou menos o mesmo que um dono de um restaurante vegan incluir no menu carne de vaca. Já ando com esta ideia a pairar há algum tempo e cheira-me que vai ser desta.

Tenho vontade de aproveitar pelo menos a primeira semana de férias em família tal e qual como os meus pais faziam connosco: sem internet, sem redes sociais, sem telemóveis na mão a mostrar tudo. A Isabel Saldanha dizia uma coisa que me pareceu interessantíssima (como aliás tudo o que ela diz e escreve, sou fã!), que era mais ou menos isto: as crianças já não têm espaços vazios no seu percurso, sem registos, para que possam criar, por elas, as suas próprias memórias. Estamos constantemente a mostrar-lhes como elas eram, o que fizeram, a cada segundo, sem que possam usar a imaginação para recriar esses momentos.

Mais do que isso, eu quero aproveitar estas férias apenas para viver e estar, olhar o mar, olhar para elas e olhar para dentro. Nos momentos em que estou a fazer scroll para ver o que os outros andam a fazer, quero ler uma ou duas revistas (tenho a Tribo para ler, por exemplo), um livro (algum recente que recomendem?) e ainda vou tentar fazer Yoga.

Para isso, vou deixar alguns posts preparados e agendados, mas não planeio vir aprovar e responder a comentários.

Tirarei fotografias às minhas filhas, claro, mas isso já os meus pais faziam há 25 anos e eu adoro fazê-lo. Mas estava a pensar mesmo em desativar os dados. Partilho convosco e volto às redes uma semana depois. Nessa semana off, espero que os amigos e família telefonem se houver uma novidade mais especial e o resto vou sempre a tempo mais tarde, certo?

Para isto correr bem, era fixe que o David também alinhasse para não haver cá grandes tentações e estarmos na mesma onda. Acho que até para as miúdas ia ser muito fixe.

Conseguiriam?


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Já não faço topless

A propósito do post da Joana Gama sobre a nudez das crianças na praia, contei-lhe que antes de ser mãe fazia topless e agora já não fazia. Pus-me a pensar se teve a ver com o facto de ser mãe ou com o facto de ser mãe e ter as mamas descaídas ou se teria a ver com o facto de me reconhecerem em bastantes sítios (no outro dia o David foi sozinho à Decathlon e uma senhora foi falar-lhe; o sábado numa feira em Loures fomos abordados; etc, etc). Eu pensava que tinha mais a ver com o facto de não ter as mamas que tinha antes de ser mãe e amamentar, mas acho que a sensação de alguma de vocês poder vir ter comigo estando eu sem top na praia me deixa desconfortável.

Sempre fiz topless. Não fazia sempre, nem todos os dias, nem em todas as praias e, caso os meus pais estivessem com amigos, punha a parte de cima, por pudor, mas caso fosse sozinha ou só com os meus pais ou com o David ou com amigas fazia. Caso fosse jogar raquetes ou fazer caminhadas punha, mas se estivesse na toalha era certo e sabido. Eu sou das que não adora marcas de bikini e a sensação de nadar sem parte de cima é incrível. E se calhar até tenho um lado mais naturalista e tudo. :) Nunca me fez confusão alguma ver alguma mulher a fazer topless, não me causa nenhum desconforto.

Tenho pena de não me sentir já confortável e de nem conseguir identificar bem a razão. Se calhar quando arranjar umas novas volto a conseguir (ahah).

E vocês? Alguém já fez ou fazia? É um tabu? Qual a vossa relação com o vosso corpo e com este assunto?


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