Muitas de nós tem de lidar com dois pares de avós: os seus pais e os do seu respectivo - que frase mais óbvia, eu sei, mas já explico. Outras famílias, com uma estrutura menos clássica, têm de lidar com 4 pares de avós e, na volta, até 6: os avódrastas e os avôdrastos. É muita gente para gerir, seja em que situação for.
Nem todos nós temos um alinhamento perfeito com os valores dos pais. Alguns continuam a mesma linha de "pensamento", outros preferem quebrá-la, construindo a sua identidade naquilo que parece ser o oposto do seu "berço". E, para além disto, ainda há também a cerimónia que se quer fazer com os sogros. Não queremos fazer com que se sintam isto ou aquilo, mas primeiro está a nossa criança e o que queremos para ela.
Vivemos numa época - digo eu a atirar para o ar porque, como estou incluída, pouca noção tenho da pressão ser maior ou menor do que noutros tempos - em que ligamos a muuuuuuiita coisa. Em que prezamos muito a criança como pessoa, as suas vontades, desejos, sonhos e representações psíquicas (palavrão, eu sei, mas o que eu quero dizer é que, por exemplo, apesar do bonequinho com que dormem para nós ser só um boneco que parece um trapo, para eles é uma segurança brutal e conseguimos respeitar isso noutras situações menos óbvias). Mas isso é agora. Os nossos pais terão tido pouco disso, provavelmente.
E estando nós cada vez mais conscientes da nossa pegada (ecológica/digital...) parental, é normal que a pressão suba e que a nossa atenção também.
Há um gap muito grande entre a nossa geração e a geração anterior no que toca a isto da parentalidade.
E é difícil ser a "chata" da família, a quem toda a gente revira os olhos ou que bufa, a que faz reparos e recomendações por ter crenças e valores que gostaria que fossem seguidos pelos outros.
Sei que os avós não fazem por mal. Era o que faltava. Sei que todos os avós amam os seus netos (gosto de pensar que sim) e que fazem tudo sem mal, mas as crianças têm que estar acima deles nisto de quererem ser gostados.
Dizer que não é também uma forma de amor. É intimidade. E se alguém da família não se sente à vontade para dizer que não à criança é porque precisa de mais tempo com ela, para ganhar espaço.
De resto, é porreiro respeitar os pais. Independentemente de se concordar ou não, além de não ser simpático contradizer o que a mãe ou o pai dizem, também a criança poderá não saber onde se movimentar.
Não sou psicóloga - já quis ser - acho que a diferença é muito útil para a criança saber mover-se, para adquirir conhecimento, mas quando são pequeninos, os pais precisam de ser respeitados até para sentirem confiança em deixar os bebés com os avós.
O que para uma avó "é uma papa com açúcar, comeste muitas e não morreste", para a mãe pode ser "não posso confiar em ti para ficares com o miúdo, vais decidir sempre tu tudo".
Isto leva-me a: como dizer que não aos avós? Custa mais dizer que não a um neto ou dizer que não a um avô? Não acredito que gostemos de fazer reparos, acho que preferiamos não ter que os fazer. Uns evitamos, outros não conseguimos, mas acho que um dos nossos maiores sonhos era sentir que (atenção à frase de trampa à Gustavo Santos - ele deixou o Facebook??)...
nós somos as capitãs do barco que é a vida do nosso filho pequenino e que a família é a tripulação, remando todos para o mesmo lado.
Isto porque hoje passámos o dia em casa da minha mãe e foi fabuloso (acabamos por ficar umas 5 horas a mais do que tinha planeado e até adormecemos lá), mas dei por mim a pensar que também deve custar aos avós sentirem que nada do que fazem é de jeito e que estão sempre a ser julgados. E que, por não estarem a fazer bem agora, significa que se acha que o que fizeram antes não estava bem feito...
Ui, eu poderei vir ser uma avó difícil de gerir, das opinativas, das metediças, das que contraria, mas darei o meu melhor para criar uma Irene em quem confie para criar os meus netos. E, acima de tudo, darei o meu melhor para que ela confie em mim.
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