12.19.2017

Dormir de olhos abertos?

Isto aconteceu hoje de manhã,


A Irene, como sempre, acordou e pediu para ir para a minha cama e, quando adormeceu, ficou com um olho praticamente aberto! Estive quase para correr a casa toda à procura de um terço. Credo!

No outro dia, sentava-se na cama a falar. E acho que também foi hoje que gritou "JOGO!!!!" a dormir. 

Não ganho para os sustos! Os vossos também ficam possuídos? 


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12.18.2017

És feia! És feia! Nunca mais vens ao café com a mãe!

No outro dia li algures que uma celebridade da nossa praça interveio num cenário em que uma mãe batia numa criança. Tais "notícias" deixam-me sempre com vontade de saber o verdadeiro motivo da partilha, se é numa de "sou tão espectacular que não deixo que isso passe em branco" ou se é numa de "devíamos unir-nos todos e fazer o máximo possível para que estas coisas não aconteçam". 

Uma simples intervenção no meio da rua, claro que evitará o efeito imediato - ou não, até poderá irritar ainda mais o agressor e a vítima levar mais a seguir por causa "da vergonha" que a fez passar que até a Leonor não sei quê da televisão viu - mas não resolve. Tenho uma amiga, que um dia creio que virá a escrever algumas coisas aqui para o blog que intervém, mas intervém a sério. Ela sabe o que fazer. Sabe os processos, sabe a quem ligar - não estou a dizer que se retire a criança ou não, creio que será sempre a última solução a ter em conta, há passos antes desses. 

Eu não tenho "coragem" para intervir. 

O primeiro episódio mais recente foi há um mês quando a Irene e eu ouvimos o som de um choro explosivo de uma menina. O equivalente a ter-lhe caído algo muito pesado nos dedos dos pés. A Irene e eu, preocupadas e assustadas, olhámos para o sítio de onde vinha o som, o acompanhante da mãe também. A mãe respondeu "e foi na cara que comigo não faz farinha". 

A miúda teria a idade da minha (não que haja idades aceitáveis para bater), isto é, 3 anos. Impressionou-me ainda mais.

Fotografia de Pau Storch


Não sei o que fazer. Não faço a mínima ideia. 

Ainda hoje não consegui processar isto. 

O segundo episódio foi neste sábado. Fui tomar o pequeno almoço a um café aqui perto (ao mítico Califa) e ao meu lado no balcão uma mãe com uma menina (novamente com a idade da Irene, devo estar mais atenta por causa disso). Ambas sentadas ao balcão, o rabo da miúda ainda nem enchia metade do banco. A mãe, virada de lado, inclina-se para cima dela, com o dedo indicador levantado diz-lhe de olhos abertos e em voz assustadoramente calma (a sério, fez-me muita confusão por estar tão calma) "És feia! És feia! Nunca mais vens ao café com a mãe!". As lágrimas vieram-me imediatamente aos olhos, fiquei muito nervosa. Sabia que não ia intervir, que não é "de mim" fazê-lo, mas fiquei muito aflita. Pedi a tudo para que não fosse repetido para entrar calmamente no meu estado de negação, mas não. Continuou a acontecer. Sem toque. Só voz. Em cima dela. "És feia, És feia! És, és! Nunca mais vens ao café com a mãe. Não é, avó? Ela não é feia? É, sim senhora!". A miúda ia bebendo o seu sumo de fruta, ao pequeno almoço - relembro. 

Já tenho uns anos de pedra partida para saber que a mãe não diz isto gratuitamente. 

A mãe provavelmente terá ouvido muito isto dos seus pais e, por isso, apesar de carregar a dor que é ter quem devia cuidar e protegê-la de palavras e actos que a destruíssem a quebrá-la, a retirar-lhe o direito de ser, não consegue parar de vomitar dor em forma de ódio, raiva. Nem consegue ver que o faz na cara de uma menina de 3 anos ou pouco mais. 

Não odeio estas mães, mas amo mais as filhas. Estas miúdas que sobrevivem como conseguem às pessoas que vivem com elas, lhes dão banho, as adormecem, lhe preparam a comida, serem as que as fazem sentir-se pior com elas próprias e não o contrário, não serem as pessoas que lhes dizem que são capazes de tudo o que queiram, que tudo depende só da força de vontade e que têm tudo para ganhar o mundo e para o viver com a mesma ferocidade com que se atiram às redes do parque infantil para trepar até ao topo. 

Não podemos destruir os nossos filhos como nos terão destruído. Não podemos carregar toda a dor do mundo em nós e abrirmos a boca sem ter o carinho de pensar no que estamos a fazer. Cabe-nos a nós que queremos amar, quebrarmos o ciclo de anos de frieza e de épocas em que havia maiores preocupações - como garantir comida e abrigo - para se ter quente suficiente para amar. 

As crianças, as nossas e as dos outros, merecem todo o amor do mundo. Serão melhores mães por isso. Teremos crianças mais felizes assim. 

Não é fácil. Deve ser mais difícil do que esbofetear uma criança ou que a insultar uma manhã inteira.

É o nosso papel: Amar. O melhor que conseguirmos. 

Se não conseguirmos, procurar ajuda. 

Tentarei falar com uma amiga - a tal que vos falei ali em cima - no sentido de apresentar aqui algumas soluções. Se tiverem algumas, por favor, partilhem. 


Fica aqui uma reflexão sobre a maneira como usamos as nossas palavras com eles: "Não gosto, pá!".

Tudo o que já escrevemos aqui sobre disciplina positiva


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12.17.2017

3 coisas que me enojaram esta semana.

Sim, sim. Que me causaram asco, repugnância, que me envergonharam. Vergonha alheia.

1) Raríssimas 
Senhora dona Paula (Brito e Costa, que a senhora tem dois nomes), herdeiro da parada e família Lda, secretário de estado da Saúde, gambas e vestidos de luxo. Deu-me para rir, deu-me para me indignar, mas deu-me principalmente para ficar extremamente envergonhada, principalmente com os vídeos (de skype?) divulgados .- que, noutro contexto me pareceriam devassa da vida da senhora, mas que aqui ajudam a construir e a traçar a personagem que ela é. E aquela história das funcionárias se terem de levantar à passagem dela, lembrei-me agora, hein? Tudo bom demais, de rir para não chorar. Porque o triste episódio que motivou a Raríssimas, até aqui vista de uma forma tão benemérita, ter conduzido até esta telenovela degradante é de um  A minha tristeza vai para o facto de recear que muita gente deixe de ajudar causas e associações por achar que são todas farinha do mesmo saco.

2) Carrilho absolvido
Estou muito longe de conhecer o caso a fundo, de proximidade com a Bárbara apenas as entrevistas profissionais que lhe fiz (e o comprovar de uma simpatia imensa), apenas li o que o Carrilho disse nas inúmeras entrevistas nojentas que deu, mas tudo isto me cheira a esturro desde o início. E as novas citações da juíza fazem-me tremer a pálpebra do olho direito de nervos. Ora então a juíza Joana Ferrer não acha plausível que a Bárbara tenha sido vítima de violência doméstica porque não se entende como é que uma mulher destemida, determinada e auto-suficiente não foi ao Instituto de Medicina Legal na altura das alegadas violências. E não entende como é que a Bárbara deu, durante esse tempo, entrevistas em que parecia estar feliz. Isto é entender ZERO de violência doméstica, da vergonha e do medo que causa na vítima, e custa-me imenso que, no século XXI, ainda se use argumentação tão cheia de estereótipos e preconceitos. E, pelos vistos, há uma tendência preocupante, pelo estudo de uma investigadora: os tribunais têm dificuldade em ver mulheres com personalidade forte e independência financeira como vítimas (artigo interessantíssimo aqui: Quem não parece vítima tem menos hipóteses de ser considerada uma). Esta humilhação toda, este descrédito nas entidades e a falta de força que estas decisões podem significar para quem esteja a passar por algo semelhante (e a força que dá a agressores) deixa-me angustiada e revoltada. 

3) IURD
Adopção ilegal, pastores milionários, as vasectomias impostas aos bispos, os falsos seropositivos... Ainda não consegui ver todos os episódios até aqui emitidos (estou no 5º), mas já percebi que entretanto dois dos irmãos já vieram falar no canal do youtube da Igreja Universal do Reino De Deus (o outro morreu de overdose, mas eles dizem que foi de ataque de coração) a dar conta da legalidade com que tudo aconteceu (coitados). Ainda bem que o Ministério Público está a investigar o caso mas já vai tarde. Vi tudo aquilo com o coração nas mãos, a ser verdade muito do que ali se conta. Nojeira mesmo. 


Bem, resta-me olhar para as luzinhas de Natal e para os sorrisos das minhas filhas para tentar encontrar alguma inocência e candura nisto tudo. Semana louca para o meu estômago. Revolveram-se-me as entranhas. 


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