10.24.2016

Hoje é um dia triste

Hoje é um dia triste. O meu avô morreu. O pai do meu pai. Morreu-me mais um avô {e estremeço só de pensar que só cá está a minha adorada avó Rosel e caem-me lágrimas só de pensar que um dia também ela não estará cá}. 

Talvez não lhe tenha dado tudo o que uma neta deseja dar ao seu avô. Nem recebido. Era um amor à antiga, daquele que não se expressa por abraços, por beijos, por palavras cheias de ternura. Era assim que ele era. Mas não foi sempre. Lembro-me, já adulta, de o ver pegar ao colo os meus primos, bem mais novos, brincar com eles, beijá-los. Não tinha ciúmes, muito pelo contrário. Ficava radiante por saber que ele tinha conseguido quebrar esse gelo e que estava a criar laços com os netos. Fico a pensar se eu não me poderia ter esforçado mais para lhe roubar todo esse amor que ele aprisionava dentro dele. Os abraços não nos eram naturais. Mantínhamos uma distância entre nós que raramente transpúnhamos. No Natal, punha-nos o envelope com a nota, que amealhava com custo e com carinho, num dos bolsos ou à pressa, numa das mãos, desculpando-se. 
Choro. Já tenho saudades. Do que vivemos e do que não vivemos juntos. Daquele natal em que resolveu declamar poemas da sua autoria e que nos brindou com um fado. Cantava mal (ele não o sabia), mas aquele raro momento encheu-nos o coração. Ficou de olhos cheios de lágrimas quando lhe contei que estava grávida da Isabel, comovido e de voz embargada. Nunca o tinha visto assim. Por isso, sei-o hoje {e no fundo sempre o soube} que os sentimentos estavam lá, o amor, o carinho e o orgulho estavam lá, mesmo que as palavras se calassem. 

Até sempre, avô. Um beijo e um abraço demorado, por todos os demos e pelos que ficaram por dar