11.25.2015

Ele não queria uma menina

Ele não queria uma menina. Quer dizer, queria, mas se pudesse escolher, na altura em que fomos saber o sexo do bebé, teria escolhido um rapaz. Eu achava que ia ser um rapaz, mas no fundo estava cheia de esperança de que fosse uma menina. 

Uma menina? Laços e vestidos e sapatos a condizer? Quarto cor-de-rosa até enjoar? Ballets e piruetas e maiôs com purpurinas? Gritinhos histéricos com os One Direction? Olhinhos de bambi para o fazer voltar atrás com a decisão? Baton e olhos pintados e micro-calções para ir sair à noite com 15 anos? Ficar com aquele feitiozinho "especial" quando está com o período? Rufias atrás dela e ter de arranjar licença de caçador para poder ter uma arma em casa? Definitivamente que não.

Queria um rapaz. Um puto desenvolto, com pinta, louco pelo Gaitan, capaz de chafurdar na lama no futebol e de saltar da ponte de Vila Franca. Dar-lhe uns calduços, fazer o braço de ferro, dar-lhe a primeira bejeca (lá para os 20 anos, claro), chamar nomes ao árbitro, gritar a bandeiras despregadas SLB. Testosterona.

Estava tão enganado. Gosta tanto de ter uma filha, que não se importava mesmo nada que viesse mais uma, já mo confessou. Um dia, a Isabel agarrou-lhe bem na cara com as duas mãos e deu-lhe um beijo inesperado. Quando lhe chama "pai", com aquela voz suave e melosa, fica todo derretidinho. Aqueles abraços de manhã na ronha da nossa cama, o "ai" teatral que grita quando toca na barba dele e até o piscar demorado de olhos com as maiores pestanas que ele já viu, enfeitiçaram-no. O feitiozinho especial ("da mãe, claro", até parece que o estou a ouvir), não o trocava por nada. Está numa fase em que o empurra do quarto e da vida dela, mas sei que vai passar (enquanto isso aproveita para dormir a noite toda, porque só quer a mãe, olha que chatice!).  

E agora, o melhor de tudo e o orgulho do pai, ela já sabe quem é o "MAIOR", como ele diz! Quando alguém diz Benfica, estica os braços a festejar. Em menos de nada, lá estará a levá-la a ver o "maior espectáculo da vida dela" e lá estarão "a celebrar os dois as vitórias do Glorioso" (que vitórias? hã? lol). Sim, porque, disse-me "a minha filha é benfiquista de alma e coração". Tudo o resto, ballet ou karaté, vestidos ou calças, isso é lá com ela, que ele está-se um bocado a marimbar. Mas, com a chama imensa não se brinca. Acho que ele até os imagina a partilharem uma cerveja e uns tremoços e a irem para o Marquês festejar (como se eu deixasse, pois, vá sonhando).

No dia em que ele tratou da indumentária dela...

Mas, de uma coisa tenho a certeza, ele adora ter uma menina, mesmo que ela não ligue patavina a futebol. É, e será sempre, a menina dos olhos dele.