Estão na moda os turbantes, as t-shirts com statements (estilo "Last clean t-shirt" ou "I have nothing to wear"), roupa com franjas e... as cesarianas.
Parece ser in marcar data e hora da cirurgia sem que ela seja realmente necessária. Há dias em que não vai dar mesmo jeito porque há mais que fazer. Assim o check in fica agendado, quarto reservado e vidinha organizada que há mais na vida do que um parto.
Mães que fizeram cesariana, não me queiram chacinar já. Percebo que quem tenha consentido em marcar a operação não havendo necessidade médica, o tenha feito porque alguém a convenceu de que não haveria diferença nenhuma e que não haveria risco algum (ver este vídeo para se rirem um bocado). Como não confiar no nosso médico? Ainda por cima estamos numa fase mais susceptível de ceder a pressões e a ansiedade pode ser nossa inimiga. E há quem queira tanto ouvir isso do médico que nem levanta uma única questão. (Claro que há sempre excepções e, por exemplo, uma situação anterior de parto "normal" traumatizante parece-me uma razão perfeitamente legítima para não se querer repetir a dose, entre muitos outros motivos e não quero ser eu a julgá-los).
Quando a minha obstetra (do privado) me disse, um mês antes, que provavelmente teria de fazer cesariana, chorei. Não estava à espera, não queria, confesso. Depois lá me mentalizei de que se tivesse de ser, seria. Que o importante era o parto correr bem e a minha filha nascer saudável. Contaram-me histórias com final feliz para me alegrarem e já estava preparada mentalmente. Acabou por não ser preciso porque, dias antes da já agendada cesariana, as águas rebentaram e tentámos o parto normal. Pode, afinal, não ser preciso. E é assim que se deve encarar uma cesariana: só quando é preciso (antecipando algum problema ou mesmo na hora do parto) e não porque se quer ou só porque sim.
Claro
que as cesarianas já salvaram muitas vidas, claro que é graças às
cesarianas que muitos bebés e mães sobreviveram e também deve ser terrível deixar um parto "normal" prolongar-se até às últimas forças por teimosia, pondo em risco ambos, mas esta prática quando é por
"dá cá aquela palha" devia ser pensada, reflectida e muito questionada! Por que razão no privado há tantas cesarianas? Não estará o dinheiro metido ao barulho? Não será mais conveniente para alguns médicos (disse alguns, ok?) ter a vidinha planeada do que partos imprevistos e imprevisíveis? Não se fará uma melhor gestão do hospital desta forma? E como saber se o que nos dizem (de ter passado muito tempo desde que a bolsa rompeu, do colo assim e assado, ou do cordão à volta do pescoço) é mesmo verdade?
A verdade, é que numa cesariana há riscos (neste artigo do Público):
- As complicações
resultantes da anestesia são duas vezes superiores e as lesões
urológicas acontecem 31 vezes mais.
- Os recém-nascidos ficam com
riscos respiratórios cinco vezes superiores, acrescidos na infância de
um risco de diabetes e de asma 25% superior aos dos partos normais.
- O risco de grandes hemorragias é 11 vezes
maior.
- Após a cirurgia o risco de infecção
também é 11 vezes superior, enquanto o de trombo-embolismo quadruplica.
- O
óbito materno acontece cinco vezes mais nos partos por cesariana.
- Numa
gravidez posterior também podem surgir mais problemas com a placenta,
sendo o risco de morte do feto 1,6 vezes superior.
Em 2014, segundo o artigo, os hospitais públicos conseguiram baixar taxas de cesariana para 28% e atendem grávidas de maior risco. No privado a taxa ronda os 67%. O resultado global é de 33%, uma meta muito acima do recomendado pela OMS e o segundo pior valor da União Europeia, apenas ultrapassado por Itália.
Então no Brasil, li algures, é um número enorme! Alguém confirma?
Então no Brasil, li algures, é um número enorme! Alguém confirma?
É esta a minha proposta: pensar um bocadinho melhor antes de escolher fazer uma cesariana só porque sim.