11.06.2017

Faço terapia.

Nem toda a gente precisa, mas acho que toda a gente iria beneficiar.

Nem toda a gente pode, mas acho que toda a gente deveria poder ir.

Eu faço terapia. 

Faço porque lá porque as coisas me surgem na cabeça ou porque os meus comportamentos me pareçam espontâneos, não quer dizer que sejam os melhores. Tudo é passível de ser trabalhado, depois de compreendido ou, por ser compreendido é trabalhado.

(se nunca tivesse parado para pensar, a Irene era corrida à estalada e ao berro)

Faço por mim, sim. Por mim que estive farta durante muito tempo de viver e sentir as coisas sem qualquer sabor ou cor e, acreditem - muitas de vocês saberão - navegar em mar alto sem saber onde se está ou para onde se quer ir, dá lugar a náufragos, muitos. 

(se nunca tivesse parado para pensar, o resto da vida seria "fazer tempo" para que algo surgisse que me acordasse)

Faço-o por mim e pela Irene, sim. Pelas duas. Para que ela sinta (que ainda iremos a tempo para muito) que o amor flui entre as duas e a que sabe o amor, no corpo e na cabeça.

(se nunca tivesse parado para pensar, a minha filha cresceria e não conseguiria relacionar-se comigo, apesar de algures sentir que me ama)

Faço-o pela Irene e pelos filhos da Irene. No meio de uma fila enorme nalgum lado onde nos colocamos por parecer o sítio onde se deve estar por toda a gente está, alguém tem de ir ver o que se passa lá a frente e parar. Para pensar. Encaixar. Dói.




(se nunca tivesse parado para pensar, teria de ser a Irene, um dia, a fazê-lo e com uma intensidade avassaladora de anos e gerações de trampa por processar)



Doí sabermos que mandamos muito pouco nisto e que somos uma migalha, mas é essa a verdade. Somos tão pequenos e os nossos problemas têm metade de nós ou têm o tamanho que "quisermos" que tenham. 

(se nunca tivesse parado para pensar, achar-me-ia sempre o centro do universo e tudo pareceria uma perseguição para que eu me sentisse infeliz em vez de todos os dias serem uma oportunidade de viver mais e espalhar amor)

Coisas em que a terapia me tem ajudado: 

- Diminuir a ansiedade de um modo geral 

E, portanto, tudo o que daí advém: irritabilidade, hipersensibilidade, falta de produtividade, sarcasmo, bullying, mau dormir, não conseguir estar disponível emocionalmente para a Irene, rotinas muito apertadas, etc. 

- Duplicado a intensidade das coisas boas

Já não as destruo na minha cabeça. As coisas boas são mesmo boas e o fim-de-semana é mesmo fim-de-semana. Faço mesmo o que quero e preciso que seja feito e a vida deixa de parecer um carrossel com muitas luzes e barulho mas sem que nada nos atravesse o corpo ou nos faça querer sair para ver a paisagem.

- Melhorado a disponibilidade para crescer

Quanto melhor compreendo as coisas, mais tudo me sai certo. A minha vida já me pareceu toda ela apenas e só um dia mau em que depois de apanhar uma molha, encontro o guarda chuva. Ou, depois de cair numa poça enorme de lama, é-me apresentado o Primeiro Ministro. Os acontecimentos não nos governam. É o contrário.

- Crio coisas boas

Não fico à espera que as coisas que quero (porque já sei o que quero e gosto) aconteçam. Já crio oportunidades para que elas aconteçam. De repente, o que dantes parecia uma espera, agora parece uma escada com treats pelo caminho. 

- Vejo melhor a Irene. 

Já sei que quando parte algo ou grita que não é o que eu sinto quando ela o fez, mas sim o que ela sentirá. E quem diz Irene, diz toda a gente, mesmo toda a gente. Até as haters anónimas. Estou em paz. 



Não há que ter vergonha de sair da manada e interrogarmo-nos sobre aquilo que nos parece crucial e que nos faz sentir unos. Mesmo um cocó de cão está inteiro e é uma bela mer**. Pode parecer inalcançável e doloroso (e é), mas é para isto que cá estamos. Para um aperfeiçoamente constante que nos permita amar com tranquilidade e sermos amados em segurança. 

A Eugénia ajudou-me bastante como vos contei neste post, neste momento o meu caminho não passa por ela, mas não posso deixar de vos sugerir que conheçam esta pessoa que toda ela é amor e brisa da ponta dos seus lindos cabelos até aos pés (a página dela é esta que, sempre que falo dela, recebo alguns e-mails a pedir o contacto, fica já arrumado).

Só para descansar quem não tenha possibilidades para fazer terapia, mesmo aconselhando-se com a médica de família (há também excelentes profissionais nos centros de saúde), há quem consiga fazer este exercício sozinho, estando mais atento a tudo que na vida não espelhe amor e faça para que mude. 

Não há que ter vergonha. Fazer terapia é o ginásio da cabeça. Será moda um dia. ;)



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11.05.2017

Tenho pena das crianças que não vão à rua (e dos pais delas).

Andamos a negligenciar isto. Às vezes por opção, na maior parte das vezes sem possibilidade de escolha. As crianças passam menos tempo ao ar livre na rua do que um recluso. Isto devia fazer-nos pensar. Aceitamos, sem muito a fazer, já que o tempo não estica entre o corridinho trabalho-casa, que a rua fique reservada para o fim-de-semana (e às vezes só quando não chove...). Aceitamos que, nas escolas, isso não seja uma prioridade. As crianças vêem a luz da rua no trajecto casa-escola e na maior parte das vezes dentro de um carro ou de um transporte público. Achamos normal que, em muitas creches, os miúdos não vão à rua antes de terem 2 anos, com a desculpa de que nem todos andam pelo próprio pé ou de que "alguns pais não querem, porque podem constipar-se (what?!)".


Às vezes, num país ainda por cima, com um clima convidativo, há escolas em que os miúdos só saem à rua, ao recreio, lá para o fim da primavera. Continuamos a sacudir a água do capote, a achar que é um problema menor, quando todos os estudos indicam que é muitíssimo importante! E É PRECISAMENTE O CONTRÁRIO! "A brincadeira no exterior, nomeadamente em contacto com a natureza, tem implicações ao nível de neurotransmissores como a serotonina. “As emoções positivas que advêm de brincar nestas condições estimulam até o sistema imunitário, em vez de o enfraquecer como muitos pensam”, afirma, explicando que “a serotonina está associada a este brincar no exterior, sujar e desorganizar a arrumação da vida certinha e limpinha” ", como explica Helena Águeda Marujo neste artigo do Observador.
Segundo um estudo feito na Universidade de Bristol, no Reino Unido, brincar na natureza tem efeitos benéficos uma vez que uma bactéria presente na terra (a Mycobacterium vaccae) ajuda a ativar a serotonina , contribuindo para a regulação do humor, sono e apetite.


Sem contar com o facto de cerca de metade dos portugueses ter falta de vitamina D, "essencial ao desenvolvimento dos ossos e dentes, mas que também ajuda na melhoria do humor e consequente diminuição da depressão."

Sem contar que a luz do dia é fundamental para o ritmo cicardiano, que, por sua vez, influencia todos os ritmos fisiológicos do corpo humano, a digestão, o crescimento, o sono, a renovação de células, etc, etc, etc. Se há problemas a nível do sono, é possível que uma das causas seja a privação de luz da rua (e esta?). "Para que tenhamos reservas satisfatórias de melatonina durante a noite, temos que aumentar a nossa exposição à luz durante o dia. Uma caminhada de uma hora ao sol da manhã, por exemplo, já garante um bom índice de produção de melatonina durante a noite, a luz controla tanto o desencadear do sinal como sua duração. (POVOA, 1996) in "Luz, sono e saúde", de Sílvia Maria Carneiro de Campos - artigo completo aqui.


Sem falar no sedentarismo, da ligação clara entre o estar activo na rua e o estar concentrado dentro da sala (um potencia o outro), da importância do exercício físico e motor e da coordenação para o desenvolvimento neurológico, para a autoestima e para a autoregulação. E também para a autonomia, para a mobilidade, para a felicidade.

Por todas estas razões, tenho pena das crianças que não vão à rua. E dos pais delas que, muitas vezes, não têm outra hipótese e que transportam esse peso (transportei-o durante o primeiro ano da Isabel na creche, quando nem sempre dava tempo de a levar a passear durante a semana).
Lamento também pelos que não permitem que os filhos vão à rua, na hora do recreio, por receios pouco informados, na minha opinião, e que, por isso, limitam que os filhos dos outros vão [mas também não percebo por que razão não há alternativa para que uns vão com uma responsável e outros fiquem na sala, com outra].


Temos muito a aprender com a cultura nórdica. "Nos países nórdicos, que têm um clima muito mais austero, as crianças andam na rua faça chuva faça sol, faça neve. Em Portugal, cai um pingo e a criança é posta numa estrutura interior. Vou repetir: temos de aprender e ensinar as nossas crianças a serem capazes de lutar contra a adversidade e nós temos uma cultura ultra protetora, superprotetora", pode ler-se nesta entrevista interessantíssima do Observador ao professor da FMH Carlos Neto, que já partilhámos em tempos, em que se fala de estarmos a criar crianças "totós".



As minhas filhas, nesta fase das nossas vidas, têm muita rua. Vivemos no campo, temos cães, fruta para apanhar e flores para regar. Com roupas arranjadinhas ou fatos de treino, têm toda a liberdade para se sujarem. A Isabel lixou o nariz todo a brincar na rua, que assim seja, bom sinal.
Além disso, eu tenho horários privilegiados, por isso, posso levá-las ao parque depois da escola.  
Mas e se/quando deixar de ter? 
O que posso fazer para que elas não respirem ar puro só ao fim-de-semana?!
O que podemos, todos juntos, fazer em relação a isto para mudar mentalidades e exigir que o ensino veja como premente e extremamente importante a vida ao ar livre, a brincadeira ao ar livre?!

[Não são perguntas retóricas, ajudem-me a pensar. Ajudemo-nos].
















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