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5.06.2015

Afinal Havia Outra (#23) - O meu parto durou 40 dias.

Nem gosto muito de escrever, mas gosto tanto do vosso blog que quis contar a minha/nossa história.
Tive uma primeira gravidez, mas o coraçãozinho da nossa estrelinha deixou de bater às 10 semanas e tive que ser internada para fazer um aborto com direito a raspagem, crises, asmas, muitas infecções, mas sempre com esperança que, dali a um ano, estaria naquele mesmo hospital de barriga grande para ter o meu bebé.

​Finalmente fico grávida novame​nte, mas até às 12 semanas não vivi a gravidez. Tive algumas perdas de sangue e andava sempre a ouvir o coração do bebé. Pensava eu que depois das 12 semanas é que ia andar tranquila. Errado.
Depois das 12 semanas começaram umas dores difíceis de explicar, parecia que estava com cólicas de período, daquelas em que temos vontade de nos deitarmos no chão, mas não o fazemos com vergonha... Várias idas à GO, às urgências, nada de contracções, bebé a evoluir bem, análises óptimas, só poderiam ser os músculos que estava a custar esticarem. Apesar do meu trabalho ser sedentário, às 20 semanas fico de baixa, mas como as dores não passavam, nem todo dia deitada na cama, a minha GO internou-me, por precaução, no dia antes das 23 semanas.

No dia a seguir, nova equipa médica, e vamos lá dar alta à menina, que isto não é um hotel e ela só tem umas dorzinhas, nada de especial. Mas pelo sim pelo não decidiram fazer uma ecografia antes de ir, por descarga de consciência... Ligam o aparelho e os dois médicos gelam, ficam brancos mesmo. Vi logo que algo se passava. Antes de dizerem uma palavra, ligaram o som para ouvir o coração, mas nem o som forte de um coração a bater conseguiu quebrar aquele gelo. Pouco depois, diz um para outro: "vamos dar já as injecções de maturação de pulmões". Resposta do outro médico: "és louca, o bebé só tem 300 gramas, 23 semanas, é impossível sobreviver". Não sei como mantive a calma e não desci pela cadeira...
Nesse instante viraram o monitor para mim e explicam-me que o bebé está bem, mas a bolsa está a descer pelo canal vaginal e pode rebentar a qualquer segundo e o bebé nascer, sendo que, com aquelas semanas, estou a ter um aborto. Nem consigo explicar os sentimentos que tive...
Disseram que não havia nada a fazer e que era esperar por um milagre. Se não rebentasse, seria mesmo milagre, pois a bolsa estava a sofrer pressão, como se fosse um balão cheio de ar a ser esmagado...
Perante tal cenário, fui novamente para o quarto, a acreditar que ia haver um milagre e ele ia aguentar assim até, no mínimo, às 35 semanas (muito positiva, eu). Fui para o quarto, fiquei deitada, pernas erguidas ao máximo, não me podia mexer nem para comer, não podia rir, necessidades era deitada e cocó era rezar para que não tivesse que fazer força...

Acaba a hora das visitas e o marido tem que ir embora. Estávamos sem chão. Eis que, pouco depois, sinto um balão a rebentar dentro de mim e fico toda molhada.
No dia em que fazia as 23 semanas, no dia em que fazia um ano que eu tinha estado naquele mesmo hospital para fazer um aborto retido, foi o dia em que a bolsa rompeu. Irónica, a vida. Lembrei-me do que tinha dito um ano antes: "daqui a um ano estarei aqui novamente para ter o meu bebé", mas, naquele momento, era tudo o que eu não queria...
Toquei a campainha e veio logo um batalhão de médicos e enfermeiros. Estava a ter um aborto e iríamos deixar o corpo fazer o trabalho dele. Fiquei a soro. Mas teimoso como o meu rapaz é, passou um dia, passou outro, e entre análises e medicação, cheguei às 24 semanas com a bolsa rota e o seu coração forte a bater.

Nesse dia, se nascesse, já teriam que investir nele. Deram-me as injecções para maturação de pulmões e enviaram-nos para o hospital distrital, que tinha neonatologia. Lá fomos nós na ambulância de cuidados intensivos, com toda a equipa que nos acompanhou nervosa, com medo que o bebé nascesse ali...
Chegámos ao hospital, nova ecografia. O bebé nem 400 gramas teria, e veio outra realidade, as estatísticas: o nosso tão desejado bebé só teria 0.01% de sobreviver e 99.9% de ficar vegetal. Só tinha líquido amniótico à volta da cara (que foi o que o ajudou a não sufocar).
Ficando na barriga a probabilidade era morrer sufocado, mas se nascesse, também teria morte certa, pois nem nos limiares de sobrevivência estava.
Então, como estava tudo perdido, iria ficar 100% acamada, com as pernas erguidas o mais possível e aguardar um milagre...
Lá fui para o quarto: pernas erguidas, davam-me de comer, banho à gato, punham-me a fazer xixi, análises ao sangue uma a duas vezes ao dia, soro sempre a correr, várias injeções (que nem sei para que eram), ecografias diárias, cintas várias vezes ao dia, vários comprimidos com vitaminas, 2 antibióticos para prevenir infecções e as horas foram passando. Três litros de água diária, músculos todos a atrofiar (já não tinha músculos nas pernas, parecia os braços de uma velhinha), dores de cabeça da mesma posição, sempre toda molhada mesmo com pensos enormes, pois todo o líquido amniótico que repunha, perdia. O pouco que o bebé se mexia doía horrores pois, sem líquido, não tinha o amortecedor nem espaço para ele se mover à vontade...

Milagrosamente lá fomos aguentando, até que numa das análises ao sangue, foi detectada uma bactéria. Teria que fazer uma cesariana, pois não era viável nascer de parto normal, mas nesse dia não podia ser, pois não havia incubadoras. Teriam que aguardar pelo dia seguinte para conseguirem uma. No dia seguinte, novas análises e os níveis da bactéria baixaram, por isso iríamos adiar mais um dia, por falta de incubadoras...
Na madrugada seguinte comecei com dores, mas fui aguentando e não disse nada. De manhã, vem o médico com o resultado das novas análises, com valores mais baixos, por isso iríamos aguardar mais um dia. Fez uma ecografia muito rápida e o peso estimado era igual ao do dia anterior, cerca de 800g. Eu digo-lhe que tinha a sensação que desse dia não passava, pois estava a ter umas dores que eram contrações, apesar do aparelho não marcar. Ele responde que era de estar acamada. As dores não passavam, até que deixaram de ser suportáveis. Não conseguia recuperar de uma, pois tinha outra seguida. Toco a campainha, vem a enfermeira com uma médica, e eis que estava já com a dilatação feita, mas teria que ser cesariana para o meu bebé não apanhar nenhum bicho... Foi uma verdadeira correria depois, cesariana de urgência, ninguém estava à espera, tinha que fazer força para apertar as pernas para o bebé não nascer por baixo e ligaram para a neo para preparem a incubadora...

E eis que, passadas duas horas, nasce o nosso herói M., às 27 semanas e 6 dias, muito inchado, com 1100g (quando o previsto eram 800g). O nosso milagre nasceu vivo e chorou, tipo gatinho, muito baixinho mesmo, mas a melhor das melodias. Não o toquei, não o beijei, não o cheirei. Só o vi de touquinha branca a sair num castelo de cristal...

Depois daquele dia tivemos ainda três longos meses de batalhas e vitórias, mas hoje o herói M., como gostamos de lhe chamar, tem 21 meses e é feliz, cheio de energia e com uma evolução fantástica!

Ana Ferreira

4.27.2015

Afinal Havia Outra (#22) - Tive o meu filho numa banheira

Há um ano e meio mudamo-nos para a Escócia. Passados poucos meses, assim como tínhamos planeado, foi com grande felicidade e entusiasmo que descobrimos que estava grávida. O tão esperado momento havia chegado!

Tive uma gravidez tranquila, sempre acompanhada com excelentes profissionais de saúde, que me transmitiam a cada consulta uma confiança que qualquer mãe de primeira viagem precisa.

Não hesitei assim que soube que na maternidade onde o meu filho ia nascer, havia a hipótese de que o parto fosse na água.

Às 38 semanas e 3 dias, pela manhã ao acordar, as águas rebentaram. Mantive-me sempre calma e liguei para o hospital, duas horas depois tive a visita da parteira em casa. Ainda não tinha contracções e recebi alguns conselhos para tentar acelerar o trabalho de parto.
Liguei para o meu marido que estava já pronto para deixar o trabalho a qualquer momento para me acompanhar. Almoçamos juntos e logo a seguir ao almoço, sentamos-nos no sofá. De repente deu-me um click: "Não posso ficar aqui parada!" Saltei do sofá e comecei a seguir todos os conselhos da parteira. Ao longo do dia foram vários os banhos de imersão com o chuveiro a apontar para a barriga, subir e descer escadas, alguns squats e ao fim de uma longa caminhada com o meu marido, já as contracções faziam prever que estava mesmo quase o momento que tanto ansiavamos.

Dei entrada no hospital às 19h, já com dilatação e contrações muito próximas. Só tive tempo de pedir para encherem a banheira e baixar as luzes. Aguardei que o meu marido viesse com as malas do carro para entrar na água. A música que tocava era da rádio. Entrei na água devagar e tentava relaxar entre as contracções. Cá fora, tinha de um lado a parteira, do outro lado um pai ansioso e aflito. A cada contracção dávamos a mãos e o olhar de um e outro reconfortava-me e dava-me energia para quando fosse a hora de fazer força. Num momento de dor e algum desespero perguntei à parteira o que devia fazer, ela olhou-me nos olhos e disse apenas para seguir os meus instintos. São momentos em que nos tornamos animais, agi de forma puramente instintiva, movia o meu corpo livremente na água, e por vezes de forma brusca pois assim tinha que ser. A temperatura era medida regularmente e ao meu lado tinha uma botija de gás nitroso que inalava entre as contracções, pois ajudava a relaxar os músculos e atenuar as dores. Não tive epidural por opção. Entre voltas e reviravoltas na água, pude levantar-me e consegui ter controle total sobre o meu corpo. O momento estava cada vez mais perto. A parteira usava um espelho debaixo de água para ver os avanços. Algum tempo depois já era possível ver a cabeça. Fui convidada por ela a tocar na cabecinha bem cabeluda do meu filho. Foi uma sensação única e indiscritível tocar naquele cabelinho tão macio e sedoso debaixo de água. Na verdade acho que foi isso que me ajudou a fazer o “push” que o meu filho aguardava para vir para os meus braços.

Foi às 22:31 que o meu maior tesouro emergiu da água, o cordão estava enrolado no pescoço o que lhe deu um tom roxinho. Com saudáveis 3,110kg foi directamente para o meu colo e ali ficou por 15 minutos. Foi a única exigência que referi na parte do livro da grávida, em que teria que preencher os espaços relacionados com as espectativas e desejos para o parto. “Quero ter o meu filho ao peito o máximo de tempo quanto possível antes de sairmos da água”. E assim foi. O pai do lado de fora, molhava o seu corpinho enrugado para manter a temperatura e esperava ansioso a hora de também poder pegar no filho. Pudemos juntos sentir o pulsar do cordão e apreciar o milagre da vida. Foram minutos mágicos e muito especiais. O cordão foi cordado pelas mãos do pai que logo de seguida tirou a blusa para pegar no filho “skin to skin”. A expulsão da placenta deu-se ainda na banheira, já sem água. Ao sair, fui logo examinada e permaneci em repouso na cama. Ali ao meu lado foram feitos os primeiros procedimentos ao bebé e nem por um momento o meu filho foi levado para longe do meu campo de visão. O pai acompanhava atento os passos da enfermeira e eu aguardava para voltar a ter o meu filho nos braços. A primeira vez em que ele mamou ainda com poucos minutos de vida, foi um momento indiscritível.

Numa só palavra a experiência de ter sido Mãe na água foi fantástica!

Desde que entrei na água até ter o meu filho nos braços foram apenas 3 horas, as mais intensas da minha vida!

Tivemos alta ao meio dia, do dia seguinte e nos primeiros 15 dias recebemos visitas diárias das enfermeiras/parteiras para sermos examinados. Ajudaram-nos a tirar dúvidas e mais uma vez recebemos a cada visita, aquela dose de confiança que tanto precisávamos.

Os primeiros banhos do meu filho foram no meu colo no chuveiro, dormia sempre relaxado e aninhado a mim. Continuamos assim a ter uma relação muito especial com a água.


Bruna Viegas
Mãe do William

3.10.2015

Querem ver o meu parto em directo no Facebook?

Se estão a ler isto, é porque sim.

Ok. Admito. Tenho um problema. Não foram poucas as vezes que a minha mãe e o meu namorado me disseram que estou viciada no Facebook.
Estou mesmo. E a prova disso é as vezes que fui à net já em trabalho de parto. Apesar de agora me ter dado um gozo descomunal reler e reviver tudo (até me vieram as lágrimas aos olhos), tenho consciência de que não é normal.


Nunca assistiram a um parto via Facebook? Então vou dar-vos essa oportunidade.



A verdade é que estas meninas das Mamãs de Março (grupo do FB de que já falámos trezentas vezes) me ajudaram a passar o tempo (ainda foram umas belas horas), me encorajaram, me divertiram e adorei partilhar tudo isto com elas!

Mesmo assim não me safo e não dispenso tratamento psiquiátrico, pois não? Eu sabia que não ia escapar...

3.03.2015

Agrupem-se, prenhas!

Imaginava lá eu que ia ser daquelas pessoas que tinha um grupo de amigas da internet, que nunca antes tinha visto na vida. Sim, mesmo agora que o mIRC já acabou e em que eu não podia passar a minha vida no #lindas a ser humilde. 

Por obra e graça do Novo Banco lá fui parar ao fórum De Mãe para Mãe. Alguém teve a brilhante e amorosa ideia de abrir um thread com o título "mães de Março de 2014" à qual eu me juntei, em pânico para poder falar com outras mães sobre o que eu sentia e se a quantidade de puns que eu dava era igual à delas ou se estava alguma coisa errada com a bebé. 

Houve outro alguém (desculpem, moças, mas como só lá fui parar depois de vocês, não sei quem fez o quê) que teve uma ideia ainda mais brilhante (parecia um aileron de um Seat Ibiza na Vasco da Gama) e criou um grupo fechado no Facebook. 

O que partilhávamos aqui? Tudo. As nossas roupas, as nossas barrigas, as nossas lineas negras (não é uma referência ao single de Juanes, não), a cor dos nossos cocós quando começamos a tomar ferro, as ecografias, coisas nojentas dos nossos pipis, choradeiras sem motivo, os preparativos para o parto, etc. 

Como engravidei "cedo" (na minha cabeça, para o que eu tinha planeado antes de conhecer o meu marido - que era não engravidar), não conhecia ninguém que tivesse estado grávida neste novo milénio. Esta foi a minha família, as minhas melhores amigas, as minhas irmãs e, confesso, a salvação do meu casamento por passar tudo para elas e menos para o Frederico (tem nome de beto, não tem, o meu maridinho?). 

Desde que a Irene nasceu que ando mais ocupada e acabei por partihar aqui no blog o que dantes partilhava lá no grupo. Acho que também não devem sentir muito a minha falta porque nos primeiros meses de vida da Irene, como ela demorava 20h a mamar, eu lia imensos artigos científicos e era o que eu publicava por lá. Chata, eu sei. 

Agora estamos na fase de comemorar os aniversários dos bebés todos - houve alguns traidores que nasceram antes de Março, mas reunimo-nos todas e deixamos ficar essas mães no grupo na mesma! ;)

Grávidas, agrupem-se. Façam o que nós fizemos. Acho que a gravidez se torna algo ainda melhor, os partos também e ganham uma nova família.

Estou toda sentimental porque andamos todas a ver o histórico do que escrevemos há quase um ano quando fomos parir e isso. Eis alguns dos meus posts! 


Vejam as datas e as horas, acho que vale a pena (para quem não tiver um rabo para fazer e for muito cusco ;))



















2.21.2015

SOCORRO! Estou in...continente!

Não, não estou num supermercado, nem fui aos Açores e voltei. É mesmo isso. Perceberam bem.

Pensei muito se escreveria isto e estou a rezar para que os meus progenitores não leiam este post. Andaram com a menina para a trás e para a frente, ele foi aulas de música, coro, teatro, explicações de inglês e de alemão porque "ai, não posso ter 17", de dança, uma lufa lufa para a rapariga ficar supé culta e ter uma mega carreira e acaba a escrever sobre xixi. Ou chichi, como preferirem, que fui confirmar e dá das duas formas. 

Mas é verdade, acontece, e se ninguém o assume (pelo menos ainda não vi a mãe da Carlota a escrever sobre nada disto no blogue dela Hehe), dou o primeiro passo. 

Estou incontinente. Desde que fui mãe que preciso de usar fraldas. Não uso, mas se calhar devia. Quando estou aflitinha e não consigo chegar ao WC a tempo, a coisa dá-se. Calma, também não abro a comporta totalmente. Acho que não preciso de ser mais gráfica, certo? Vocês agradecem (e mãe, desculpa! lol)

Somos um blogue que fala sobre tudo, qual programa do Goucha ou da Júlia. Há tempos falou-se lá de tipos de cocós e levaram mesmo os espécimes. Juro! Por aqui vamos tentar que cheire menos mal, mas não prometemos nada.

Se quiserem comentar como anónimas, percebo perfeitamente. Não deve ser fácil assumir que se faz xixi pelas pernas abaixo quando não somos nem concorrentes da Casa dos Segredos nem temos 80 anos. Mas preciso muito de dicas. Cá vão as dúvidas:

1) é caso para ir à ginecologista?

2) além de exercícios com o períneo (já faço a história do elevador, sabem?), o que aconselham?

3) alguém já passou por isto e voltou ao normal?

Obrigada, suas... mijonas!

2.17.2015

O meu partão.

Primeira fotografia da Irene 
"Descobri que sou igual a todas as que estavam a passar por esta experiência pela primeira vez: Estava igualmente entusiasmada e assustada. Estava louca para que tudo se despachasse (já estava um bocadinho cansada de estar grávida, apesar de agora estar a morrer de saudades) mas, ao mesmo tempo, queria que a Irene nunca saísse de dentro de mim. Como funciono, todos os dias, para mim, eram o dia de ir parir. É parvo, bem sei. A verdade é que meti na cabeça que a Irene iria nascer às 35 semanas (data a partir da qual não há risco de vida maior da bebé) e a partir daí foi uma seca. Sem querer falar nos longos meses em que achava que tudo o que tinha eram contracções (porque não li em lado algum nada que me explicasse bem o que eram) e estava desejosa de tê-las para sentir que as coisas estavam a evoluir já que não pude ver a bebé na ecografia quando já estava muito grande. Não dormia nada, acordava milhares de vezes durante a noite para ir à casa de banho, o meu marido aprendeu a ressonar dia sim, dia sim. Uma alegria. Queria era parir. Houve um dia (já tinha uma aplicação para cronometrar contracções e tudo) em que reparei que estava a ter contracções perto umas das outras e constantes. De 15 em 15 e paravam durante uma hora. Depois de 10 em 10. Depois uma agente imobiliaria lá em casa e eu com um sorriso amarelo cheia de dores. Depois de 10 em 10. Depois fomos para o hospital que já só me apetecia dizer coisas. Fiz o CTG (uma coisa para medir as contracções e o ritmo do coração do bebé, acho eu) e a coisa estava perto de se dar, mas não era urgente. Depois de umas apalpadelas (demasiado profundas e dolorosas) no ninho da Irene (meu rico pipi), mandaram-me ir para casa jantar, tomar um banho, usar um laxante e voltar com calma mais tarde. Lá fui. A chorar entre contracções e a rir ao mesmo tempo. O marido assustado mas assustadoramente calmo para o que eu imaginei que fosse estar. Banho meio a fingir, dado o desconforto. Jantar impossivel e, não aguentei mais. As contracções continuavam de 5 em 5 minutos mas com umas dores tais que já nem conseguia estar feliz. Fui chamada mais rápido (até desconfiei que tivessem uma camera na sala de espera e que, por me verem a chorar, andaram mais rápido com o assunto). Fui vista, mais umas apalpadelas pouco simpáticas e a Dra., com pena, mandou-me internar dizendo “mas olhe que isto só para amanhã porque não tem nada dilatado”. Isto é: sim, tem dores, mas o seu corpo não está a fazer nada de útil. Lá fui lá para cima, enfiaram-me o tubo da epidural (que me doeu imenso, mas eu sou uma maricas), deitei-me e estava cheia de medo. Chegou o meu marido. Fiquei mais calma. As drogas também tinham começado a fazer efeito. Hei de dizer sempre à Irene: drogas não, filha, a não ser no parto. Foram minhas amigas e acho que, apesar de me terem queimado metade do cérebro e de, passado um mês, ainda me doer o sítio onde tinha enfiado o catéter da epidural, não mudaria a quantidade de recargas que fui pedido. Sempre que deixava de fazer efeito, parecia que estava a ser alcatroada. Um dia inteiro com o marido na poltrona a cuidar de mim. A molhar-me a cara com água. A beber chá às escondidas. A fazer xixi para uma coisa de cartão. Não reparei que tinha sido um dia. Só dei pela passagem do tempo pelas milhares de apalpadelas super desconfortáveis para aferir o diâmetro do túnel por onde a minha leitoa iria passar. Estava na altura de fazer força. Misto de emoções. Queria que tudo parasse e que acabasse rápido. Vamos a isso. Fiz muita força, lembro-me de ter medo que as veias da minha cabeça rebentassem e que tivesse um avc. Nunca tinha feito tanta força na minha vida. Nunca. Fazia força e as enfermeiras diziam que a Irene não saía do mesmo sítio. Fiz ainda mais força. Nada. Durante o que imagino ter sido uma hora e tal não aconteceu nada e as enfermeiras saíam e entravam e pediam para eu ir fazendo força enquanto se ausentavam. Não sei se estava fisicamente esgotada (porque às vezes vamos buscar forças não sei onde, vi no Biggest Loser), mas psicologicamente não queria mais. Queria que esta “porra” do parto natural acabasse e que me dessem uma pancada na cabeça e só me acordassem quando a miúda já estivesse em cima do meu peito. Gritei várias vezes que “não quero mais”, “não quero saber, façam o que quiserem, eu desisto”, “não faço mais”, “não aguento”. Mesmo assim não fui levada para cesariana. Chamaram uma médica com fama de ser amorosa que aproveitou que o meu marido tinha saído para informar a família para fechar a porta e não o deixar entrar porque iam usar a ventosa e porque eu estava “em choque”. A médica  que era muito amorosa, passou-se e começou a gritar comigo para tentar recuperar a minha sanidade: “JOANA, ISTO VAI TER QUE ACONTECER, VOCÊ VAI POR O SEU BEBÉ CÁ FORA. ISTO AGORA NÃO É PARA BRINCAR. ESTÁ EM CHOQUE.”. Só me veio à cabeça aquela altura em que mandam um chapadão nas pessoas para acordarem. Bem que precisei de um chapadão. Só queria que tudo parasse. Estava cheia de medo porque sempre que fazia força, deixava de ouvir o coração da bebé no CTG. Sentia que algo estava errado. Finalmente percebemos por que é que a Irene não saía do sítio: cordão umbilical à volta do pescoço. E, para além disso, acho que ela estava numa posição esquisita e, portanto, tiveram que me cortar. Saiu. Puseram-na em cima de mim. Nem 2 segundos. Levaram-na. Chorou. Parou de chorar. Comecei eu a chorar. “Que silêncio é este? Morreu a minha filha? O que aconteceu? Ainda nem nada começou e já falhei como mãe? E agora? Quero morrer. Não quero saber a verdade. “ Não chorou mais, mas estava bem. Teve de ser aspirada e, segundo disseram, puseram-na na incubadora para estar mais quentinha, apenas. Estava mole. Parecia sonolenta. Provavelmente da quantidade de drogas que pedi. Eu continuava em choque. Não conseguia sentir nada. Até o meu marido ter pegado na nossa filha. Aí fui mãe. Puseram-ne na minha mama. Mal. Mamou na auréola e não no bico. Fiquei com as maminhas logo em ferida. Nem reparei que estava mal, não senti nada. Como quase não senti as duas dúzias de pontos que levei assim que ela saiu. Não queria que o meu marido fosse embora. Não queria ficar sozinha. Eu estava debilitada e, além do mais, não sabia se sabia ser mãe. O marido foi embora. Fiquei num quarto partilhado. Entrei na cama. Não falei com ninguém. A Irene ficou sempre ao meu lado. Se ela chorasse, tinha de chamar alguém porque além de não me conseguir mexer, não sabia o que era para fazer. Sempre que fechava os olhos sentia as mãos das enfermeiras e das médicas a averiguarem se já tinha dilatação suficiente. Ainda ouvia as vozes de toda a gente. Ainda não era mãe. Não conseguia. Não percebia sequer que era a minha filha que estava ali comigo. Sabia apenas que precisava de alguém. Não conseguia que ela mamasse bem. Não conseguia tirá-la do berço. Não conseguia voltar a pô-la. Por que é que quando mais precisamos de estar em condições que estamos mais vulneráveis? Estava super assustada e sem o meu marido. Veio a luz do dia. Comecei a falar com as outras mães. Uma estava igualmente assustada, a outra já parecia dominar a arte de dar de mamar a fazer o pino (segundo filho). Consegui tomar banho. Chegou o pai. Cheguei. Comecei, aos poucos, a ser mãe. Disse ao meu marido que não me sentia segura em sair no dia seguinte dali porque tinha medo de não saber cuidar dela (apesar de ter lido quarenta livros, de ter ido às aulas de preparação, etc). Porém, assim que me deram alta, quis ir. Já queria ir desde manhã. Eu consigo. Ela é minha. Sei que assim descrito pode ser assustador (porque é), mas acho que é importante passarmos por tudo isto. É algo que também nos vai ligar ao bebé e nos vai fazer mais fortes. O meu marido conta que logo depois da Irene ter nascido eu disse: “Quero ter mais um filho”. E, como repararam, não foi fácil. Alonguei-me. Tanto quanto o meu parto no São Francisco Xavier. Impecáveis. Menos em conseguir a sair de lá a amamentar convenientemente. Talvez tenha sido só comigo, mas a mãe da cama à minha frente também já dava suplemento na fase do colostro. Reverti a situação e o meu segundo filho será lá também, mas aí não há suplemento para ninguém, mesmo que tenha de passar a noite a ser vigiada pelos enfermeiros por haver risco de infecção, como aconteceu."

in Grupo Fechado no Facebook "Mamãs de Março de 2014" onde partilhei (partilhámos todas, meninas, não é?) tudo sobre a gravidez, parto, tudo... Obrigada pelo vosso amor. 


2.10.2015

Uma hora pequenina!!!

O caraças!

Quem inventou esta frase ou teve uma experiência como esta (aviso já que este vídeo não é para meninos porque mete um parto num carro! WOW!) ou então tinha os relógios todos avariados.

Não desejem mais isto, pá! Acho que de tanta gente a desejar-me uma hora pequenina, aconteceu um sumatório dessas horas pequeninas todas. Das 13h e tal às 02h48: buaaaaaaaa! Mas lá por terem sido umas quantas horas não me pareceram assim tão extensas. Foi "uma hora grandinha" mas boa e apenas 10 minutos na sala de partos até se dar a desova. 

Portanto, o tamanho não interessa. Das horas, estou a falar das horas, por quem me tomam?


As vossas foram pequeninas? As horas, estou a falar das horas!


2.08.2015

A moda das cesarianas

Estão na moda os turbantes, as t-shirts com statements (estilo "Last clean t-shirt" ou "I have nothing to wear"), roupa com franjas e... as cesarianas. 
Parece ser in marcar data e hora da cirurgia sem que ela seja realmente necessária. Há dias em que não vai dar mesmo jeito porque há mais que fazer. Assim o check in fica agendado, quarto reservado e vidinha organizada que há mais na vida do que um parto.

Mães que fizeram cesariana, não me queiram chacinar já. Percebo que quem tenha consentido em marcar a operação não havendo necessidade médica, o tenha feito porque alguém a convenceu de que não haveria diferença nenhuma e que não haveria risco algum (ver este vídeo para se rirem um bocado). Como não confiar no nosso médico? Ainda por cima estamos numa fase mais susceptível de ceder a pressões e a ansiedade pode ser nossa inimiga. E há quem queira tanto ouvir isso do médico que nem levanta uma única questão. (Claro que há sempre excepções e, por exemplo, uma situação anterior de parto "normal" traumatizante parece-me uma razão perfeitamente legítima para não se querer repetir a dose, entre muitos outros motivos e não quero ser eu a julgá-los).

Quando a minha obstetra (do privado) me disse, um mês antes, que provavelmente teria de fazer cesariana, chorei. Não estava à espera, não queria, confesso. Depois lá me mentalizei de que se tivesse de ser, seria. Que o importante era o parto correr bem e a minha filha nascer saudável. Contaram-me histórias com final feliz para me alegrarem e já estava preparada mentalmente. Acabou por não ser preciso porque, dias antes da já agendada cesariana, as águas rebentaram e tentámos o parto normal. Pode, afinal, não ser preciso. E é assim que se deve encarar uma cesariana: só quando é preciso (antecipando algum problema ou mesmo na hora do parto) e não porque se quer ou só porque sim.

Claro que as cesarianas já salvaram muitas vidas, claro que é graças às cesarianas que muitos bebés e mães sobreviveram e também deve ser terrível deixar um parto "normal" prolongar-se até às últimas forças por teimosia, pondo em risco ambos, mas esta prática quando é por "dá cá aquela palha" devia ser pensada, reflectida e muito questionada! Por que razão no privado há tantas cesarianas? Não estará o dinheiro metido ao barulho? Não será mais conveniente para alguns médicos (disse alguns, ok?) ter a vidinha planeada do que partos imprevistos e imprevisíveis? Não se fará uma melhor gestão do hospital desta forma? E como saber se o que nos dizem (de ter passado muito tempo desde que a bolsa rompeu, do colo assim e assado, ou do cordão à volta do pescoço) é mesmo verdade? 

A verdade, é que numa cesariana há riscos (neste artigo do Público):
- As complicações resultantes da anestesia são duas vezes superiores e as lesões urológicas acontecem 31 vezes mais.
- Os recém-nascidos ficam com riscos respiratórios cinco vezes superiores, acrescidos na infância de um risco de diabetes e de asma 25% superior aos dos partos normais.
- O risco de grandes hemorragias é 11 vezes maior.
- Após a cirurgia o risco de infecção também é 11 vezes superior, enquanto o de trombo-embolismo quadruplica. 
- O óbito materno acontece cinco vezes mais nos partos por cesariana. 
- Numa gravidez posterior também podem surgir mais problemas com a placenta, sendo o risco de morte do feto 1,6 vezes superior.

Em 2014, segundo o artigo, os hospitais públicos conseguiram baixar taxas de cesariana para 28% e atendem grávidas de maior risco. No privado a taxa ronda os 67%. O resultado global é de 33%, uma meta muito acima do recomendado pela OMS e o segundo pior valor da União Europeia, apenas ultrapassado por Itália. 
Então no Brasil, li algures, é um número enorme! Alguém confirma?

É esta a minha proposta: pensar um bocadinho melhor antes de escolher fazer uma cesariana só porque sim.

1.27.2015

Vvvvvvvvvvvvvvvv (som do secador)

O meu marido ainda hoje adora o som do secador. Diz que se lembra da mãe estar a secar-lhe o cabelo, com ele sentado na sanita e de adormecer com cabeça encostada ao peito dela. Gosta do quentinho e do barulho. 

Quando estava grávida e secava o cabelo, ele aproveitava quando saia do banho e, apesar de não precisar, passava com o secador pelo corpo também. Digo "apesar de não precisar" porque calhou-me um velhote com tanto pelo quanto uma manga: nenhum! Demasiada informação? Sim, sempre. 

O meu pai também (acho que era o meu pai, nunca me lembro bem), depois de eu ter o pijama vestido, também me punha um bocadinho o secador por dentro do pijama e eu adorava o balão de ar quente. 

Pelos vistos, o namoro do ser humano com o secador é ainda anterior à nossa infância. Vem de quando éramos bebés. Nunca tinha ouvido falar disto até começar a investigar maneiras de acalmar recém nascidos (para quem ainda não seja mãe, eles choram muito e nem sempre é maminha ou fralda suja). 

E não é que o som do secador é muito parecido com o barulho que eles ouvem dentro do nosso útero e, proporcionalmente, no mesmo volume? 

Há a teoria de que os bebés deveriam só nascer 3 meses depois, que deveríamos ficar grávidas durante um ano se isso não fizesse com que nos esvaíssemos em sangue pela coisinha (adoro!), porque nessa altura os bebés já estão mais desenvolvidos cerebralmente (e não só) e o parto não seria tão traumático (para eles). A Natureza faz com que eles nasçam mais cedo, mas é pelas mães, segundo essa teoria. 

Às vezes, essa inquietude "traumática" e desesperante (para nós) do recém nascido, faz com que mediquemos a torto e a direito os nossos bebés achando que "só podem ser cólicas". Eventualmente essas "cólicas" acabam por passar e, erradamente, atribuímos a um determinado medicamento ou probiótico em vez de ser o próprio bebé que se encontra mais "situado". Estou a gastar imensas aspas, eu sei. 

Durante os três meses seguintes (cá fora), eles sentem que não pertecem a lado algum e têm saudades do útero. Por isso, o swaddling (embrulhá-los numa manta, bem apertadinhos e fazer shhhhh bem alto ao ouvido), o som do secador e outros, visto que reproduzem as condições do útero, fazem com que fiquem mais calmos.

Experimentei isso com a Irene e resultou. Usava isto quando estava desesperada (não é que eles sejam insuportáveis, mas nós, mães, estamos a passar por muita coisa ao mesmo tempo e torna-se, às vezes muito complicado):


Claro que não é o secador em si que é milagroso, o som do aspirador também resulta (não tenham medo de os acordar enquanto aspiram a casa se forem recém nascidos, até ajuda) e o som do exaustor. Lembro-me de precisar de ir fazer xixi e de a por na espreguiçadeira ao pé do exaustor para poder fazer xixi durante um bocadinho, sem me stressar. Abençoados aparelhos.

Depois não só lhes passa como voltamos a estar bem da cabeça e a conseguirmos ser criativas e ter instinto para os afagar, mas este é um óptimo truque de emergência!

Funciona quase com todos, verdade?

1.06.2015

O pânico da porcaria da mala da maternidade (#02)

A Joana lançou o pânico aqui. Ela tem razão, a verdade é que não temos de levar a casa às costas. Não vamos para o Big Brother, vamos continuar a ter contacto com o exterior e continuar a ter cérebro (apesar de parecer mirrar substancialmente).

A par de preparar o quartinho da Isabel, fazer a mala para a maternidade foi das coisas que mais gozo me deu fazer. Sou mega romântica, gosto de detalhes, sou apegada a coisas como a primeira fralda de pano, o primeiro conjunto, o primeiro babygrow. Sou muito de memórias visuais. 
Andei a namorar as roupinhas e o que eu adorava dobrá-las, fazer os conjuntos, definir qual a primeira roupa, a segunda e a terceira e ainda levar um conjunto extra. Um babygrow querido e quentinho (com golinha, óbvio) caso nascesse durante a noite, e foi o que aconteceu. As roupas (cueiros e respetivas collants, bodies e casaquinhos, pelo sim, pelo não) iam separadas por "envelopes" de fraldas de pano, fechadas com alfinetes de dama cor-de-rosa.

Para mim, uma mala normal de viagem com três camisas de dormir, um robe fininho e bonito, chinelos e pouco mais. Levei kit de banho, claro, cremes e - não gozem! - maquilhagem para a saída (sim, tipo estrela de cinema, pronta a ser fotografada pelos paparazzi).

Como ia para um hospital privado (Hospital da Luz), também não tinha de levar muita coisa. Mesmo assim, não dispensei:

- Spray de água termal da Vichy - Naquelas longas horas de espera em trabalho de parto em que não se pode comer nem beber, borrifar-me foi o que me safou, palavra! Sentia a cara e os lábios sempre hidratados.
- Purelan, da Medela - Pomada para os mamilos - os primeiros tempos da amamentação podem não ser a coisa mais maravilhosa do mundo, porque nem sempre a pega está a ser bem feita, por isso usar purelan ajudou-me bastante.
- Tena Pants - Ah, pois é, minhas amigas, também eu pensava que me ia guardar lá para os 70 anos, mas segui o conselho, experimentei e não quis outra coisa (quer dizer, quis, quis outra coisa, mas enfim, teve de ser). Ainda experimentei uma vez um penso numa daquelas cuecas de rede que nos dão no hospital e não tem nada a ver. Com estas cuecas (ou fraldas, chamemos as coisas pelos nomes) não há risco de nada sair de sítio, ajustam-se bem e estamos sempre confortáveis. Recomendo, sem dúvida!

OUTRAS DICAS:

- Fraldas de recém-nascido não vale a pena levar, fazem parte do "pacote"

- Sei que parece óbvio, mas quando (se) vos rebentarem as águas não se vão lembrar disto: elástico para o cabelo.

- Se forem esquisitinhas aqui como eu, levem máquina fotográfica "à séria" porque, mesmo que não seja para emoldurar ou partilhar no Facebook, vão adorar rever fotografias como deve ser do vosso bebé acabadinho de sair, ainda ensaguentado no vosso colo ou a mamar, com minutos de vida (ainda hoje me comovo a ver essas imagens).

VISITAS:

- Como podem chegar a ter lá 40 macacos enfiados no quarto na hora das visitas, umas 23 horas por dia (não é tanto, mas é essa a sensação), decidam já como querem fazer e vão pedindo - sem vergonhas, porque o momento é VOSSO! - a algumas pessoas para vos visitarem depois em casa. Aquilo já é quente, então com muita gente, não se torna nada confortável.
Para decidir quem vos pode visitar, aconselho a usarem um medidor de décibeis - acreditem que não vão querer a tia surda a perguntar-vos 5 vezes o peso da criança.

Respirem fundo e lembrem-se: é mais fácil do que parece!


1.02.2015

O pânico com a porcaria da mala da maternidade

Lembro-me de ficar em pânico com isto quando estava grávida. Havia imensas listas por todo o lado na internet (porque eu as procurava, é verdade) e cada item que lá estava ou que, por comparação, faltava, deixava-me cheia de nervos. Pior: as listas podem mudar de hospital para hospital. Pior: nas aulas de preparação para o parto do meu hospital, avisaram-me que podia nem haver compressas... pelo que me apeteceu transportar uma farmácia para lá no dia do parto. 

Não precisa de ser nenhuma mala em especial, por amor de Deus. Claro que há mães (como a outra Joana) que gostam de caprichar em tudo o que levam e usam por serem muito visuais e por tudo ficar bem numa fotografia para depois comover os próprios filhos quando as revirem ou as mães porque "dantes ainda tinham paciência para isso". 

Eu levei a minha mala normal de viagem. Sim, nada romântica. Ao menos tem umas riscas cor-de-rosa, já não parecia propriamente que ia para um treino de futebol feminino (e que tinha engolido a bola). Não interessa o que levei lá dentro. Interessa, sim, o que levaria hoje, já com a experiência de uma estadia anterior.


Duas dicas importantes :

- O pai, ou os avós podem muito bem ir e voltar todos os dias e trazer o que precisamos. Não é necessário enfardarmos a mala de tralhas como se fossemos para uma zona recôndita no Alentejo onde nem há bomba de gasolina. 

- Está um calor só estúpido na maternidade. Só para terem noção, tinha as maminhas todas carcomidas da Irene ser uma parvalhona a mamar e eu não ter jeito nenhum, estavam besuntadas de pomada (a Purelan da Medela - muito peganhenta, quase nem saia da roupa ao lavar) e ao léu. Sem frio. Zero. 


12.30.2014

5 coisas parvas que gostava de ter sabido antes


Sabem aquelas coisas que gostávamos de ter sabido antes, mas que no fundo não mudava quase nada se as soubéssemos? Coisas que na altura parecem o fim do mundo, mas depois vai-se a ver e são só parvas?

Cá está uma lista mais ou menos aleatória de idiotices que nos podem moer nos primeiros dias na maternidade:

#05 olhos tortos
É normal que os recém-nascidos tenham um olho a olhar para o burro e outro para o infinito. Por isso, nada de, ainda na maternidade, ficarem cheínhas de medo que a vossa filha se pareça com a Rita Pereira (se bem que até não ficavam mal servidos, que é gira que se farta).

#04 ventosa
Quando o vosso filho não está a querer sair nem por nada pelo vosso pipi por variadíssimas razões, a equipa médica pode ter de usar ventosa - tipo desentupidor de canos, estão a ver? E como é que a médica pede a dita? Achavam que dizia "ventosa, ófaxavor?" Não, não. Fala em código, neste caso com um som "bahbah" (onomatopeia inventada agora com som de desentupir canos).

#03 miauffff
O vosso filho pode nascer com uma cara que parece ter sido arranhada por um gato ou ficar com ela assim logo nas primeiras horas. A Isabel nasceu com unhas de fazer inveja a muitas mães e uma cara que parecia um quadro de Miró. Não sei se já alguém concorreu ao Guiness com isto, mas eu posso apostar que foram as unhas mais compridas de um recém-nascido. Comprei logo uma lima (wrong! tesoura, tesoura, tesoura) e ainda tentei solucionar aquilo, mas já foi tarde.

#02 calor tropical
Como nasce no Inverno, três babygrows quentinhos, três casaquinhos, três pares de colants, botinhas de lã, gorrinhos, mantas. Mala de maternidade pronta. Danger, senhoras! Perigo de verem os vossos filhos a derreter! Encarem a maternidade como uma viagem ali ao Brasil, estejam preparadas para temperaturas a rondar os 60 graus e para as visitas que ainda aquecem mais o ambiente. (Ou seria eu que estava em brasa? Digam-me: não sentiram que estavam numa sauna?)

#01 mecónio
Meconiquê? Na maternidade, uma enfermeira vai fazer um número de contorcionismo com o vosso bebé, para o ajudar a fazer cocó, e vai parecer que o estão a tentar encaixar numa mala de viagem a abarrotar. Agarra as pernas, encolhe as pernas, espreme o puto, até começar a sair o mecónio. Não, não descobriram uma reserva de petróleo, aquela é a cor do primeiro cocó dos bebés.


Mães grávidas, que tempo mais bem gasto das vossas vidas com dicas e alertas importantíssimos! Só que não. Este foi talvez o texto mais estúpido que já leram. Comprem mas é o livro do Mário Cordeiro, que aqui não se aprende nada.

12.28.2014

Não senti.

Não é um post com humor. Não é um post de uma lista de coisas. 
É um post que, para ler, requer coração. Amor. E, acima de tudo, compreensão. 
É normal nem tudo ser normal. 
Não amei a minha filha assim que a vi e quero que outras mulheres se sintam normais comigo e com elas. 


Depois de 9 meses contigo a crescer dentro de mim, sonhei em ter-te nua nos meus braços.

Já gostava de ti quando ainda eras só o bebé. 

Antes mesmo de ter a certeza de que já estavas em mim, já te amava. 

Quando decidimos ter-te, já estava apaixonada por ti.

Quando ouvi o teu coração bater pela primeira vez, chorei e apercebi-me que ias mudar a minha vida para sempre e para melhor. 

Quanto te vi pela primeira vez,  prometi que te ia dar tudo, tudo o que tinha e não tinha, para sempre.

Quando te senti pela primeira vez, chamei-te filhota. Foi a primeira vez que comunicaste comigo.

Comecei a construir o teu quarto. A coreografar toda uma divisão com coisinhas para que te sentisses tão bem quanto possível, apesar de fora da minha barriga. Lavei toda a roupa que os avós te tinham comprado, estendi e passei. 

Preparei o mundo cá fora para ser o melhor possível para ti. Só pensei em ti, a todas as horas nesses 9 meses. 

Chegaram as contracções. Dor. Ansiedade. Medo, mas menos do que pensava, por saber que te ia conhecer. 

Fui a sorrir para o bloco, apesar de ter dois caminhos de água salgada já seca até às bochechas.

Tinha o meu maior amor ao meu lado, na poltrona e o meu amor por conhecer, na minha barriga, pronto para sair.

Passado um dia, passadas dezenas de epidurais (ou lá o que eram), horas em "jejum", uma infecção, uma ventosa... existes!

Existes e paraste de chorar. Deixaste de respirar. Respiraste outra vez. Foste para a incubadora, por estar mais quentinho. 

Senti que queria ter mais um bebé, mas não me apercebi que estavas ali. O meu coração parou e, apesar de manter todos os meus outros sentidos, o sentimento não estava. 

Tive noção de que algo não estava bem. Não senti. Não senti o que todas as mães dizem sentir:

"Fiz mal em ter engravidado?" "Não mereço ser mãe?" "E agora?" "Por que é que não estou a chorar de felicidade?" "O que se passa comigo?" "Estou doente?" "Sou doente?" "Não sinto nada"

Senti amor, sim, mas pelo pai quando te pegou ao colo.

"Por que é que o meu corpo está a torná-la invisível?" "Não vou poder falar sobre isto com ninguém, que vergonha" "Já sou má mãe e ainda nem acabaram de me coser"

Fui para o quarto, lá em cima. O pai foi mandado embora. E, sem me poder mexer, estando ainda o meu corpo a repetir todas as dores que senti ao longo das últimas 24 horas, sabia que estavas ao meu lado.

Além de não conseguir ir ter contigo, ou mexer-te, estava escuro. Mal te via. As outras mães estavam a descansar. Por que é que eu não te queria ter perto de mim? Por que é que nem pensei nisso? Tinhamos acabado de ser separadas e por que é que eu não sentia nada? 

Sentia-me apenas sozinha por não ter ali o teu pai. Além de ter ficado sem o bebé que amava (foi como se tivesse desaparecido), não tinha ali o meu melhor amigo.

Na segunda noite, não pudeste ficar comigo. Tiveste de ir com os enfermeiros. Não me fez confusão. E odiei-me por isso. Tive vergonha de não sentir nada. Tanto que me levantei para ir perguntar por ti, mas apenas para ninguém desconfiar que não sentia nada. Fui por obrigação. Por responsabilidade e não por amor.

Afinal não é sempre verdade o que as outras mães dizem.

Estava assustada. Insegura. Choravas e eu não sabia porquê. No dia seguinte já era para vir para casa e eu não queria, porque começava a ser mãe e não sentia nada.

Viemos. 

Coxeava contigo de um lado para o outro, tinha-te ao meu colo, adormecias com a mama na boca, mas não conseguia falar contigo. Estava em piloto automático. 

Até que. Até que me apaixonei por ti...

ou...

... até que voltei a mim. 

Fui amando-te mais e mais todos os dias. Não me imaginava um único segundo sem ti. Tinha de estar sempre a olhar para ti. Não me conseguia mexer quando adormecias em cima de mim só para ter o privilégio de ouvir a tua respiração. Tinha todo o cuidado do mundo a mexer-te, não te fosses partir. Durante a noite sonhava que estavas no meu peito. 

Sou Mãe. 

E, afinal, amo-te. Amo-te tanto quanto as outras mães que dizem que sentiram tudo de uma só vez. 

Afinal não estou estragada e vou conseguir dar-te todo o amor que mereces e ainda mais. 

Tenho saudades tuas e estás a dormir ali.

Choro agora de alívio, não estou estragada.

Vais ter a Mãe que mereces.