Calma, o título é alarmista. Não estou com uma depressão pós-parto e não sinto que precise de ajuda médica (não ainda), mas a verdade é que, ao contrário do pós-parto da Isabel, comecei recentemente a ter mais lágrimas à mistura na equação e a ser confrontada com mais fantasmas.
"Com o segundo, é tudo mais fácil. Vais ver que vai ser tudo com uma perna às costas." Em parte, sim. Não temos medo de os agarrar, não ficamos tão assustadas com uma borbulha que lhes nasça na testa, manejamos uma fralda a transbordar de cocó só com um dedo mindinho, já não stressamos tanto com os gramas que eles ganham semanalmente... e por aí fora.
Mas eu sinto que com o segundo não é tudo mais fácil, pela simples razão de que não existe só o segundo na nossa vida. Existe uma mãe mais experiente, com menos macaquinhos no sótão, mais confiante nas suas maminhas, uma mãe que já aprendeu que é importantíssimo fazer as sestas com eles, mas existem também dois filhos, dependentes de nós, do nosso amor, da nossa paciência.
A verdade é que eu ainda não me sinto à-vontade para ficar um dia sozinha com elas.
Fiz a experiência ontem e acabou comigo a chorar copiosamente, ao fim de 3 horas a tentar adormecer a Luísa, durante a noite, rezando para que a Isabel não acordasse entretanto. E o reconhecimento dessa impotência - mental e física - fez com que me sentisse derrotada. Custa muito sentir que não estamos a dar conta, não como gostaríamos. "Era suposto eu conseguir, sozinha, dar conta do recado." Ir buscar a Isabel à creche cedo, deixando o jantar pronto, a mesa posta, o pijama e o banho quase preparado, brincar com uma, dar mama a outra, tentar adormecer a mais nova primeiro, depois a mais velha e "sobreviver" a uma noite - sempre imprevisível - de cólicas da mais nova e de pesadelos da mais velha. Tinha ido deitar-me vitoriosa, a agradecer a todos os santinhos o facto da Luísa ter dormido durante a hora e tal que a Isabel demorou a adormecer. Mas acordei, com a Isabel às 06h30, ao contrário do que era suposto com aquela história de que "basta um sorriso deles e ganhamos logo forças", sem força anímica. Cansada, meia revoltada com o mundo, cheia de vontade de "despejar" a Isabel na creche e cheia de vontade de dormir. De manhã, não me apeteceu ser mãe. E, depois de todo este emaranhado de sentimentos, a
dificuldade em me reconhecer neles, a culpa, a frustração.
Claro que sobrevivi, claro que passou, claro que elas não
ficaram traumatizadas com o meu mau humor (pedi à Isabel, quase em lágrimas,
para parar de tocar o tambor, que estava cheia de dores de cabeça, e ela
parou). Claro que sobreviverei a muitas outras vezes em que terei de ficar com
as duas sozinha e que, daqui a uns tempos, tudo será mais fácil (ou parecerá
mais fácil). Claro que nada disto é um drama sem fim, mas não gostamos de nos
confrontar com as nossas incapacidades, com os nossos deslizes, e o pior de
tudo é cairmos no erro da comparação com outras mães que têm três, quatro
filhos - e nenhum deles está na creche - e conseguem lidar com tudo sem
entrarem em modo drama queen. Queremos manter sempre o optimismo, o sorriso, a
garra. Mas não somos de ferro. Eu não sou de ferro e nem a pancadinha nas
costas do "vai passar e até vais ter saudades" resulta na hora H.
Acho que a alternância entre sentimentos de plenitude,
satisfação, felicidade e alguma tristeza, choro e dúvidas, faz parte desta fase
de mudança. Não sinto que esteja com uma depressão pós-parto, mas - por nunca
ter tido nenhuma antes e não sendo psicóloga - não hesitarei em ir a uma
consulta, caso algum dia tenha dúvidas e sinta necessidade. Escrever este texto
já me ajudou. Acho que ler os vossos comentários também irá ajudar. Mas o que
sei que vai ajudar mesmo é reconhecer que tudo isto faz parte do processo, não
me culpabilizar tanto pela falta de paciência nem me sentir defraudada por nem
sempre me sentir uma super mulher, relativizar mais, desabafar mais, pedir mais
ajuda, ir arranjar as unhas, ir comer um gelado de dois metros, dormir mais.
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