Ora então vamos lá ver se os nossos amigos não apagam o nosso número de telemóvel e se as tias afastadas não deixam de nos oferecer meias no Natal.
Este é um manifesto. Manifesto-anti-visita-na-maternidade.
Imaginem uma pessoa cujas veias da testa não rebentaram por pouco e que acaba de estar 12 horas a tentar fazer passar um mamute pela toca de um coelho. Imaginem que essa pessoa não ingeria - nem uma pevide, um tremoço, nada - há mais de 20. Imaginem que, lá pelo meio, esteve em sofrimento. Imaginem que não esteve em sofrimento, mas está muito, muito cansada. De repente, encheu-se de beta-endorfinas, ocitocina, prolactina e outras "inas". Esteve 9 meses à espera de conhecer aquele ser. Finalmente pode olhar para ele, namorá-lo, estar pele com pele. Precisa desses momentos contemplativos, de calma e paz.
E, afinal, vê-se enfiada numa discoteca com música muito alta, varão e presenças de pseudo-vips da casa dos segredos. Vê-se obrigada a ter de descrever repetidamente, já rouca, tudo o que lhe aconteceu. Uma e mais uma vez. Querem pegar-lhe no filho, ainda mal ela fez o corte do cordão - "lave só as mãos, por favor" - cheirá-lo e sentenciar parecenças, mesmo que o bebé tenha ainda cara de repolho inchado.
Vamos lá ver aqui uma coisa. A intenção das visitas é a melhor, a curiosidade é muita, a vontade de partilhar momentos de emoção com os nossos amigos é enorme. Mas vamos, como em quase tudo na vida, aguardar convite. Perceber se a nossa presença é muito desejada.
Adorava desejar muita gente no meu quarto: era sinal de que estava pronta para a rambóia e a cowboyada, que tudo tinha corrido às mil maravilhas, que não estava a desmaiar cada vez que me levantava, que estava pronta para outra. Mas, o melhor é aguardar. Ver como corre. Apalpar terreno. Até lá, só estão convidados os pais, os sogros, a minha avó e os tios (os nossos irmãos) e os melhores amigos. E a Isabelinha. Todos os outros - que amamos do coração - vão ter de esperar por notícias. Até pode ser que eu esteja cheia de força e coragem para ver pessoas! Era óptimo sinal! Mas, para já, é "esperar para ver".